Eu nao sei voce, mas quando clico em alguns links recomendados nos blogs que visito, costumo ficar horas passeando de pagina em pagina sem dar uma respirada mais funda, que e pra nao fazer barulho e atrapalhar a concentraçao. Quanta coisa boa tem sido produzida em termos de imagem e escrita na blogosfera. Ate ai tudo bem, nao devo ser a unica deslumbrada de plantao. O problema e que me da logo vontade de contactar o autor, de fazer comentarios, trocar emails, virar melhor amiga. Tenho que me controlar para nao convidar o individuo para tomar um cafe comigo, esteja ele morando em Portugal ou no Canada.
Coisa interessante este mundo que a gente nao pode ver, mas parece poder definir tao bem a patir das relacoes que se estabelecem de uma maneira tao particular. É intrigante descobrir e trocar ideias com pessoas que provavelmente voce nunca venha a ver, mas parecem tao intimas. Ideias que nao tem necessariamente rosto, voz, ou nacionalidade, mas que falam de tudo isso nas entrelinhas. Pessoas como voce, algumas sem nenhuma pretensao literaria, dispostas de uma forma tao generosa na malha virtual, ao alcance de maos que correm soltas nos teclados do
mundo inteiro, 24 horas por dia, sem restriçoes de sexo, idade, raça, condiçao social.
Mas o melhor de tudo e que voce pode passear anonimo pelas paginas dos blogs, embora nao impune. Podera, se preferir, tecer elogios, fazer comentarios e tambem divulgar suas proprias ideias. As relacoes desta ordem costumam ser carregadas de gentilezas. Quem precisa de um inimigo virtual? Nao da para pedir dinheiro emprestado, é vero, ou esperar que o entao amigo tire voce de uma roubada em tempo real. Em compensaçao nao se tem acesso as eventuais crises de mal humor, problemas existenciais, ressaca, dor de cotovelo, a nao ser travestidos de letras. E, se achar que nao vale a pena manter a amizade, por mais longa que seja, e so deletar o link de seus favoritos. Seu amigo nem vai perceber.
AmeRiCanDo: verbo reflexo; brincando de tomar modos americanos; buscando adaptar-se ao modo de vida americano, embora senhora de uma alma cosmopolita e apesar da saudade
31 de mar. de 2006
30 de mar. de 2006
Van Gogh e Eu
Caro senhor Van Gogh,
Sei que vem insistindo ha dias para retratar minha cadeira, assim como fez com Gauguin tempos atras, mas nao podera ser hoje. Ja tentei, juro a voce, organizar meu espaço fisico, mais precisamente meu quarto, e nao tenho avançado um milimetro no termino desta tarefa. Tudo o que tenho conseguido e mudar a bagunça de lugar. Pelo visto, nao sabe do que estou falando. Seu quarto sempre me pareceu um primor. A cama coberta por uma colcha vermelha impecavel, os retratos na parede, a toalha, o chapeu e as vestimentas devidamente penduradas, a mesinha do lado disponibilizando o que precisa, o espelho a refletir tamanha organizaçao. Porem, me chama a atençao as cadeiras, nunca vi roupas sobre elas. E de causar inveja.
Mas, querido amigo, o que posso adiantar a voce e que por dentro estou tao indigna de ser retratada quanto minha cadeira. Ate acho que ha algo interessante a ser considerado, mas se trata de material mais apropriado para um psicanalista. Nao me consta que Freud va me chamar outra vez para uma consulta experimental. A ultima vez que o fez eu estava feliz da vida e agradeci com um cartao cheio de palavras educadas. Agora estou aqui, sem espaço na cadeira para sentar. Melhor estaria se pudesse deitar em um divã.
Um forte abraço!
P.S. Se eu fosse voce, enquanto espera, começaria a retratar seu proprio quarto.
Vincent Van Gogh
O Quarto de van Gogh (1889).Vincent van Gogh (1853-1890).Óleo sobre tela 57 x 74 cm. Museu d'Orsay (Paris)
A cadeira de Paul Gauguin, 1888, óleo sobre tela, 90,5 x 72 cm. Van Gogh Museum, Amsterdã – Holanda
A Cadeira de Vincent com Seu Cachimbo (1889)
Tate Gallery, Londres
29 de mar. de 2006
28 de mar. de 2006
Tias
As vezes olho no espelho e vejo tia Esmeralda, outras olho para dentro e encontro tia Dora. Mas posso encontrar Dora no espelho e Esmeralda dentro de mim, elas estao por toda parte, fazendo festa em minhas memorias. Nao estavamos juntas nos almoços de domingo, mas sempre soube que teria algo delas comigo. Mesmo que quisesse, disso nao esqueceria. Quando menina, se estava a chorar, diziam que parecia com Esmeralda, se me mostrava distraida, com Dora. Hoje sei que as semelhanças estao bem alem destes detalhes desconcertantes. Com o passar dos anos, passei a desejar que fosse com elas cada vez mais parecida, na integridade, no carater, no jeito de sorrir, de abrigar as pessoas, de rir de si mesmas, de gostar de estar em familia, na paixao pela educacao e no interesse pela mente humana. Hoje me divirto quando meu pai, na intençao de comigo falar, chama primeiro por suas quatro irmas, passando por minha mae e irma e tao somente chama meu nome. Emiliaesmeraldaisabeldorarosaanaluciaadriana. Nao importa, sou mesmo um pouco de cada uma delas. Porem, como nada e perfeito, depois que cheguei na America, perdi a mania de colocar acentos nas palavras, que nem faz tia Dora, e nao tenho mais tempo de chorar como antes, como faz quando esta emocionada, a minha querida tia Esmeralda.
27 de mar. de 2006
Jardim
26 de mar. de 2006
Xo, Bichanos!
Nao sei explicar porque, mas adoro desenhar gatos, recorta-los, pinta-los, escrever historias onde sao personagens principais. Tenho varios exemplares da raça pendurados nas paredes e outros guardados em meus arquivos. Acho que os gatos dos cartoons tambem sao todos muito interessantes, mesmo quando sao preguiçosos, como Garfield, ou atrapalhados, como Tom. Tenho que reconhecer que eles tem la seu charme. Gosto inclusive dos que aparecem nas fotos de calendarios, dentro de cestas, cheio de lacinhos, parecendo inofensivos e simpaticos. Porem, sou bem intolerante quando se trata dos gatos de verdade. Acho que sao folgados, espaçosos, cinicos, interesseiros e uma porçao de outros adjetivos que invento para ficar bem longe deles. Ate os bem bonitos, peludos, com um rabo enorme, olhos lindos, me dao pavor. Mas nem sempre e possivel ficar a salvo dos felinos quando se esta na America. Que mania esses americanos tem de criar bichos e entao de torna-los melhores amigos. Cachorros e gatos sao os preferidos, por certo. Mas o problema e que quando criam gatos, nao tem so um ou dois, mas cinco, seis de uma vez. Tambem nao pretendo explicar o fenomeno, ja cansei das teses. Prefiro estudar agora como reagir quando encontrar com os bichanos nas casas dos amigos que visito, quando nao ao me deparar com um na porta de casa.
Uma vez tive que driblar sete gatos na casa de uma professora. Eles estavam por toda parte, inclusive no banheiro, onde tentei me abrigar por alguns minutos. Na casa de minha chefe, um deles pulou sobre meu casaco assim que o coloquei no sofa. Depois ficou roçando suas costas em minhas pernas pedindo atençao, enquanto conversava. Confesso que nao dei a minima para o que dizia a moça, tudo o que me passou pela cabeça foi como me livrar do tal felino de forma que nao fosse mal interpretada pela mesma. Claro que ele sabia que eu nao iria colocar em risco meu emprego e entao abusou nos carinhos. Pedi pra morrer. No mesmo dia entrei no orkut e passei a ser membro da comunidade odeio gatos e me filiei a Sociedade Inimiga dos Animais. Vingança mesmo.
Semana passada, o gatinho branco que voce ve na foto teve o desplante de me interceptar quando eu saia apressada para o trabalho, com cara de quem estava carente e faminto. Quando o vi, atraves do vidro, nao pude acreditar. Comecei a fazer gestos para que fosse embora. Creio que na linguagem felina dos sinais fiz alguma coisa que queria dizer exatamente o contrario. Alem de ficar, começou a miar insistentemente. Pensei em nao ir mais trabalhar, ligar e dizer que estava doente, o que nao seria uma mentira. Mas lembrei que nesta terra, se nao se comparece ao trabalho, nao se ganha dinheiro. Seria dar muito cabimento ao gato se resolvesse abrir mao do meu ganha pao. Quando me armei de uma vassoura para enxota-lo, ele se afastou um pouco, mas, tao logo fora de casa, ele me seguiu, ainda miando. Com um certo cuidado consegui que nao pulasse pra dentro do carro junto comigo. Sai aliviada. Pensei que chegaria em casa e ninguem acreditaria em mim quando contasse que fui perseguida por um gato desconhecido. E assim foi. Mas, para minha alegria, dois dias depois ele estava a me esperar novamente. Desta vez eu saquei a camera fotografica, tirei fotos, documentei tudo. Provas em punho, fiquei feliz da vida. O gato? Acho que tinha culpa no cartorio, pois, desde entao, nunca mais apareceu.
25 de mar. de 2006
PRA QUEM JA PASSOU DOS 40
Pois e, depois dos quarenta, se instala um fenomeno junto aos mortais comuns que consiste na reincidencia em torno do tema velhice, seja para negar ou para trazer a tona o assunto de forma compulsiva. Os que negam tem a mania de comprar cremes rejuvenescedores, tantos quantos apareçam no mercado, gastam horas na academia diariamente, se desesperam a cada nova ruga que se insinua e aceitam qualquer palpite para combater a chamada velhice precoce, para nao dizer indesejada. Tambem nao revelam mais a idade e afirmam que so sabem contar ate 39. Nada de mal nisso, parece ate simpatico, quando nao vem acompanhado de obsessao ou cegueira. Os que dizem, ou fingem, aceitar o fluxo natural do tempo, tem mil e uma explicaçoes acerca da necessidade de aceitarmos os anos que se seguem como uma dadiva, tendo em vista um termino do segundo tempo sem maiores mazelas. Porem, o que chamam de placido fim esta longe de ser necessariamente menos duro do que qualquer outro tipo disponivel. Ninguem em sa consciencia, ou mesmo sob efeito de um antidepressivo qualquer, quer abrir mao da prorrogaçao. Aquele que fica para ouvir a historia ser contada no preterito perfeito ( voce ja descobriu por que este tempo se julga perfeito?), tem que dar a volta por cima e aprender a "estar velho", porem nao ultrapassado ou inutil, ou deprimido e doente. Quem sabe a minha geracao comece a se preocupar com isso mais cedo? A geracao passada, que se deleitou com os adventos da ciencia diante de fatos nunca antes imaginados, como por exemplo o surgimento dos antibioticos, talvez tenha tido a doce ilusao de que o segredo da imortalidade seria distribuido em frascos e acessivel a todos em um breve futuro. Porem, o que se constata e que nenhum cientista conseguiu aplicar o principio simples de "causa e efeito" para resolver os males da alma. Continuamos tao frageis e impotentes diante do desconhecido, quando nao do que nos parece totalmente familiar, quanto antes. Talvez mais saudaveis e experimentando uma melhor qualidade de vida, mas certos de que somos apenas uma pequena parte das pessoas nessa imensa bola a termos direito a questoes basicas como educacao, moradia, saude, emprego... Estamos longe de ver todos os beneficios, que o mundo moderno chegou a garantir, acessivel a todos. Um dia talvez descubram que o remedio para a fome, a miseria, o analfabetismo, a exploracao desmedida dos recursos naturais, a divisao das terras, nao ha de ser encontrado nos frios laboratorios dos cientistas positivistas.
O texto de hoje e em homenagem a Re Camara, inaugurando amanha uma nova decada, a de 50, provando que sabe bem como conciliar desespero e placidez diante do passar dos anos, tao bem descrito por Quintana “Antes, todos os caminhos iam. Agora todos os caminhos vêm”. Por falar nele, ai vai mais uma perola: Eu não sou como aqueles velhos que dizem: "Ah, os bons velhos tempos..." eu tenho vontade de dizer para eles: "Olha seu moço... seu moço, não, seu velho. Os tempos são sempre bons, o senhor é que não presta mais... (risos).
O texto de hoje e em homenagem a Re Camara, inaugurando amanha uma nova decada, a de 50, provando que sabe bem como conciliar desespero e placidez diante do passar dos anos, tao bem descrito por Quintana “Antes, todos os caminhos iam. Agora todos os caminhos vêm”. Por falar nele, ai vai mais uma perola: Eu não sou como aqueles velhos que dizem: "Ah, os bons velhos tempos..." eu tenho vontade de dizer para eles: "Olha seu moço... seu moço, não, seu velho. Os tempos são sempre bons, o senhor é que não presta mais... (risos).
24 de mar. de 2006
CAFUSÃO
As noticias dos canais brasileiros ou ainda as informacoes a que temos acesso nos jornais online nao sao o que eu chamaria de animadoras. Nao me refiro aos grandes conflitos que assolam o mundo, aos inocentes mortos em nome de Deus, aos governantes vaidosos sedentos de poder, aos tolos que justificam o desproposito. Nao que isso nao mereça minha indignaçao, mas o que tem me deixado aflita por ora sao os pequenos absurdos,como a prisao de Maria Aparecida Matos que passou um ano e sete dias na cadeia porque, em maio de 2004, funcionários de uma farmácia em São Paulo a surpreenderam na tentativa de furtar um xampu e um condicionador, ou ainda de Angélica Aparecida de Souza Teodoro, presa em novembro de 2005 sob acusação de roubar um pote de manteiga no valor de R$ 3,20. Enquanto isso, aguardam em liberdade criminosos que cometeram delitos graves, desde matar pai e mae ate desviar dinheiro publico para os paraisos fiscais. Pois bem, mas ate ai nao ha nada que os jornais e revistas nao tenham publicado ou que nao tenha passado pela cabeca de qualquer um de nos cidadaos ou ainda dos colunistas, blogueiros e formadores de opiniao de plantao. Muitos artigos foram escritos,discussoes deflagradas, bandeiras levantadas em favor dos socialmente injusticados, fisiologicamente desprovidos, psicologicamente alterados, e mais de um milhao de termos que sempre aparecem para ilustrar a materia. Mas a melhor definicao da situaçao nao foi publicada em lugar nenhum, embora devidamente divulgada para uma plateia relativamente numerosa, por um rapaz moreno, de seus vinte e poucos anos, nome e RG desconhecidos. O sujeito foi pego dentro de um supermercado,tambem na tentativa de furtar um xampu. Quando foi algemado pelo segurança e se viu rodeado de pessoas que chegavam sem parar de todos os lados para assistir a cena, falou num tom irritado, pronunciado em um dialeto tipicamente nordestino: "Oh cafusão porcasa de um vidro réio de xapú"
23 de mar. de 2006
Os Dela nos Meus
21 de mar. de 2006
Ao Departamento de Imigracao
Passei parte da vida ouvindo minha mae dizer que nao viemos ao mundo a passeio. Mas eu garanto que da proxima vez eu fatalmente virei. Nao estou certa de que sera a Sao Pedro que farei minhas reivindicacoes. Me parece que ele trabalha com os vistos de entrada, nao de saida. Mas, de toda forma, seja la quem for o responsavel pelas expedicoes desta ordem, farei minhas consideracoes.
O trabalho arduo e honesto nao tem oferecido as vantagens propagadas junto a uma serie de outras frases do tipo “ a vida e dura para quem e mole” ou “Deus ajuda quem cedo madruga”, incansavelmente repetidas. Que o digam as contas sobre minha mesa de trabalho, que serao por certo quitadas a tempo, mas nada mais me restara a fazer a nao ser me redobrar em esforcos para que as do proximo mes tenham a mesma sorte. Enquanto isso, a viagem a Europa ficara aguardando por melhores dias. Conheco um rapaz que nao passou ainda dos 25 anos e acaba de terminar seu curso na universidade. Pois bem, sempre que pergunto por ele, se encontra em algum paraiso terrestre ou, na pior das hipoteses, fazendo algo que gosta sem sair de casa . O ultimo porto foi o Hawai, esteve la para um estagio de seis meses. Ao perguntar pelo mesmo, soube que ja esta se mudando para uma cidade praiana na Florida onde fara um mestrado. Voce ha de pensar que o camarada nada em dinheiro e eu aproveito para dizer que nao e verdade. Tambem nao e do tipo batalhador que busca toda e qualquer chance para se dar bem. As oportunidades simplesmente surgem para ele sem que faca grande esforco. Comigo as coisas nao tem sido la tao faceis. Comecei a trabalhar antes mesmo de entrar na universidade, tenho o curriculo recheado de cursos, especializacoes e mestrado. Ja pensei que deveria comecar meu doutorado no proximo ano, mas nem tenho um emprego decente. Isso e o que da vir ao mundo com visto de estudante ou ainda com permissao de trabalho. Pois da proxima vez eu vou bater o pe: so volto com visto de turista.
20 de mar. de 2006
Quem sabe Amanha
Estava esperando a primavera. Dissera o calendario que hoje ela chegaria sem falta. E bem verdade que algumas arvores ja tinham se travestido de flores, ha sempre aquelas que se apressam um pouco. Ninguem sabe ao certo o que aconteceu. Quando a neve soprou forte, pintando tudo de branco, nao tive tempo de perguntar se ela, enfim, viria amanha.
19 de mar. de 2006
Volateis
As vezes crio monstros terriveis que moram em meus armarios. Nunca sei direito onde coloco as chaves que os mantem presos, e acho que o faco de proposito. Os monstrinhos me mantem ocupada quando nao tenho nada mais pra sonhar.
Nos dias de primavera, quando o sol faz de conta que ja nao esta mais frio la fora, penso em convida-los para passear, mas sempre descubro que fugiram pelo buraco da fechadura.
Picture from: www.tesd.k12.pa.us/.../ images/monsterlg.jpg
18 de mar. de 2006
Simples
Ofereco um sorriso a cada um de seus feitos. Os grandes, que os farao alcar voos. Os de tamanho razoavel, que se revelarao em suas rotinas. Os que eu talvez nem venha a sabe-los, de tao intimos, quando nao secretos. Sorrirei tambem por tudo de mais corriqueiro, mais simples...
Tao simples quanto atirar pedrinhas no lago e contar quantas vezes elas saltam sobre a agua.
Tao simples quanto atirar pedrinhas no lago e contar quantas vezes elas saltam sobre a agua.
A Pratica do Alpiste
Eu ainda nao tenho ideia ate onde vai o senso de praticidade dos americanos, penso eu que ninguem ainda conseguiu estimar, devido a rapidez com que se superam. Mas confesso que algumas praticas me parecem tao benvindas, que chego a duvidar que relacionar a verdade a tudo que e eficaz podera vir a causar grandes danos a humanidade, como alguns chegam a pregar. Um pouco de pragmatismo nao faria mal ao nosso inesgotavel idealismo. Ao subordinar o conhecimento a uma finalidade pratica, os americanos criam situacoes as vezes despreziveis, outras vezes muito interessantes.
Em dezembro fui ao casamento de um amigo brasileiro com uma garota americana. Os convites chegaram nos moldes brasileiros, em cima da hora. O vestido da noiva ficou pronto tres meses antes, como convem aos americanos. O culto foi proferido em duas linguas, mas a traducao mais fiel ficou por conta do pai do noivo, que ainda se arrisca pouco no ingles. Quando o pai da noiva, nao sem antes agradecer a participacao de todos, anunciou formalmente aos presentes que o jantar seria servido no salao de recepcao no andar de baixo e que entao estavam convidados para se juntar aos noivos, o interprete se apressou em traduzir a mensagem em poucas palavras: a boia vai ser servida la embaixo , o que gerou gargalhadas, ate hoje nao compreendidas, pelos convivas nativos. Mas o detalhe mais encantador ficou por conta dos saquinhos de alpiste, devidamente decorados com lacinhos da cor das toalhas de mesa, dos adornos e dos vestidos das damas, distribuidos entre os amigos que se enfileiravam na porta da igreja a espera da saida dos noivos. Vi que todos se preparavam para lancar o conteudo do saco sobre o novo casal, que ja se aproximava. Me perguntei se arroz nao seria mais apropriado,como reza a tradicao. Mas quem se importa? Pude ouvir a mae da noiva comentar que, em minutos, os passarinhos comeriam o alpiste entao atirado, que formava um tapete no chao, o que pouparia alguem do trabalho de ter que varrer os milhares de graos que choveram das maos que desejavam toda sorte de felicidade aos pombinhos; àqueles que acabaram de casar e aos que viriam para o banquete na calcada da igreja mais tarde.
Em dezembro fui ao casamento de um amigo brasileiro com uma garota americana. Os convites chegaram nos moldes brasileiros, em cima da hora. O vestido da noiva ficou pronto tres meses antes, como convem aos americanos. O culto foi proferido em duas linguas, mas a traducao mais fiel ficou por conta do pai do noivo, que ainda se arrisca pouco no ingles. Quando o pai da noiva, nao sem antes agradecer a participacao de todos, anunciou formalmente aos presentes que o jantar seria servido no salao de recepcao no andar de baixo e que entao estavam convidados para se juntar aos noivos, o interprete se apressou em traduzir a mensagem em poucas palavras: a boia vai ser servida la embaixo , o que gerou gargalhadas, ate hoje nao compreendidas, pelos convivas nativos. Mas o detalhe mais encantador ficou por conta dos saquinhos de alpiste, devidamente decorados com lacinhos da cor das toalhas de mesa, dos adornos e dos vestidos das damas, distribuidos entre os amigos que se enfileiravam na porta da igreja a espera da saida dos noivos. Vi que todos se preparavam para lancar o conteudo do saco sobre o novo casal, que ja se aproximava. Me perguntei se arroz nao seria mais apropriado,como reza a tradicao. Mas quem se importa? Pude ouvir a mae da noiva comentar que, em minutos, os passarinhos comeriam o alpiste entao atirado, que formava um tapete no chao, o que pouparia alguem do trabalho de ter que varrer os milhares de graos que choveram das maos que desejavam toda sorte de felicidade aos pombinhos; àqueles que acabaram de casar e aos que viriam para o banquete na calcada da igreja mais tarde.
16 de mar. de 2006
Señora Adriana
Señora Adriana e um outro personagem que vive dentro de mim. Na verdade, bem mais fora do que dentro. Digamos que, no momento, e meu papel principal. Señora Adriana se tornou conhecida na cidade pelo publico infantil, embora alguns niños mal consigam pronunciar seu nome. Isso nao e exatamente um problema para os que rapidamente a saudam com um caloroso Hola, seguido de mais duas ou tres palavras cuidadosamente pinçadas de um vocabulario relativamente diversificado para os pequenos gringos. Porem, mais do que as palavras, me fascina a curiosidade que salta a olhos vistos, travestida de perguntas de toda ordem sobre o mundo que fica do lado de baixo do equador. Perguntas que as vezes nao sei responder e mesmo assim se desdobram em muitas outras que chegam atropelando minha mania de querer explicar tudo. Sem falar na certeza de que todos os dias, talvez no final da tarde, eu volto para casa, no Brasil, e entao retorno pela manha, bem cedinho, diretamente para a escola, onde estarao me esperando com um buenos dias cheio de sotaque. Temos entao um pacto, mesmo sem termos combinado direito, que diz que ninguem pode exigir que um venha a falar a lingua do outro da mesma maneira, no mesmo ritmo, na mesma cadencia. E, apesar disso, havera um esforço conjunto para que nos entendamos sem maiores problemas. A isso, demos o nome de respeito. E esta e a liçao preferida de Señora Adriana.
14 de mar. de 2006
Chega Primavera Passa
13 de mar. de 2006
EnConTros
Eles sempre me encontram e o fazem de uma maneira impar, desta vez no labirinto virtual, que parece ter mais vaos do que pode supor nossa analogica consciencia. No entanto, tambem tenho meus creditos no quesito hide and seek. Nao foi tao simples para eles esconder qualquer sentimento latente quando do primeiro encontro. Bem que tentaram disfarcar, eu diria, mas mais pareciam duas criancas diante de um brinquedo novo ainda embrulhado para presente. Nao creio que esperaram o Natal chegar para fazerem a festa. So sei que o ano novo comecou mais cedo e trouxe muitas surpresas, dentre elas um caso de resgate, digno dos melhores filmes policiais. Mas isso e assunto que rendera boas gargalhadas quando me encontrarem novamente, desta feita comendo carne de carneiro e bebendo agua de coco, em uma esquina qualquer, na Terra da Luz.
12 de mar. de 2006
Maes e Filhas
Quando Maria Lucia nasceu, Bianca ja passava dos quarenta e Talita viria vinte e poucos anos depois. Situacoes absolutamente comuns em tempos atuais, aos olhos das convencoes sociais de suas respectivas epocas, as recem chegadas meninas, foram entao intituladas tempora e prematura, detalhe que as fizeram de alguma forma mais especiais. Hoje, as meninas, todas tres, habitam o mesmo cenario. Tres geracoes que trilham caminhos distintos mas partem e retornam diariamente para a mesma estacao. Ha algo de similar no jeito que elas caminham e param, na maneira de sorrir timidamente, de gargalhar sem parar de pequenas bobagens. Ha muitas diferencas na forma como tocam a vida, como dividem seu tempo e acalentam seus sonhos. As vezes nao sei mais quem e mae, quem e filha. Se revezam bem nestes papeis, com a experiencia de quem sempre soube brincar com o tempo.
RON MUECK
Odeio forwards. Faco a gentileza de abrir alguns em consideracao a pessoa que os enviou ou, se de bom humor, o titulo for sugestivo. Mas nesse domingo chuvoso, sem a possibilidade de ir ao pic-nic, resolvi conferir a mensagem reencaminhada da Elke, que vinha com o nome de cultura. Me deparei entao com a obra de Ron Mueck e cheguei a duvidar que as esculturas ali apresentadas nao seriam fotografias, tao perfeitas em suas imperfeicoes em situacoes tao... humanas. Corri no Google, adoro fazer isso, e digitei rapidamente o nome do australiano. Visitei as galerias e museus onde se encontram as pecas monumentais de Ron Mueck. Parecia que elas vinham assim aos montes, correndo na contramao da estrada onde desfilam os rostos e corpos perfeitos das propagandas. Fiquei a margem, olhando estupefada. Achei corajoso, genial, polemico, simples, para nao sem falar da tecnica, mas isso fica para os criticos de arte. Me vi em cada um daqueles instantes, tao cotidianos,tao provaveis, tao modernidade, tao ocidentais, tao ... Vi as fotos dos visitantes que olhavam maravilhados quando nao assustados para a peca ali disposta, como um grito. Um grito que dispensa qualquer palavra, explicacao, analise. Nao que alguem nao tenha se atrevido a faze-lo, mas fica tudo assim meio pequeno diante do impacto da imagem em nossa alma, tantas vezes errante, pequena, alimentada de Prozacs, maquiagem e toda sorte de inibidores, tao bem retratada por Mueck. Paradoxalmente, usando silicone, plastico e outros artefatos, as pecas, armaduras ocas, expoem o que nao se pode ver em nos, momentos que voce reconhecera com propriedade, quer voce os tenha vivido ou nao.
Depois disso, me resta fazer o que odeio ainda mais do que receber os tais forwards: reencaminha-los aos melhores amigos. Valeu, Elke!
Se quiser ver mais fotos sobre a obra do artista:
http://www.picarelli.com.br/fotolegendas/fotolegenda022006a.htm
http://images.google.com/images?q=ron+mueck&hl=en&lr=lang_pt&sa=N&tab=ii&oi=imagest
11 de mar. de 2006
As Flores de Plastico nao Morrem
Flores me encantam, mas definitivamente nao tenho o dedo verde. A ultima tentativa que fiz de cuidar de um vasinho especialmente cedido por meu vizinho acaba de se transformar em desastre. Melhor eu dar detalhes. Meu vizinho e um senhor de seus quase oitenta anos e muitas vezes me lembra meu pai distante, exceto pela paixao pelas plantas, que pelo que me consta meu genitor tambem nunca nutriu. Pois bem, acho ate que o tal vizinho fica um tanto deprimido no inverno, pois estar no jardim a conversar com as suas flores faz brotar uma luz em seu sorriso. Desde que aqui cheguei ele tenta me convencer a gastar algumas horas na semana na lida com a terra, as sementes, as ferramentas de trabalho, e me explica tudo sobre cada flor como quem fala de um filho. Tudo em vao. Meu jardim continua mais parecido com um deserto e sinto muito que esta seja justamente a visao que ele tem quando olha pela vidraca da sala de estar. No ano passado entao, me deu um vaso com uma planta que, segundo ele, vinha de uma matriz cultivada por sua mae. Se eu ja dei uma ideia da idade do vizinho, voce pode calcular que a plantinha trazia memorias longinquas. Ele foi delicado quando disse que devido a minha inexperiencia com plantas me daria uma que nao precisaria mais que agua e sombra. Durante alguns meses ate achei que tudo tinha mudado e que agora sabia cuidar das plantas tanto quanto das pessoas. O vaso ficou lindo e todos elogiavam, surgiram brotos, ficou enorme. Agora no inverno fez um dia de sol e achei que a tal plantinha, assim como o vizinho, precisaria ir la pra fora para ganhar mais vida. E assim o fiz. A deixei em uma sombra, mas sujeita ao calor inesperado daquele dia. Calor que nao durou mais do que algumas horas, quando a neve veio e cobriu tudo de branco, inclusive o vaso de plantas. Nao pense que e tudo. So reparei o erro dias depois, quando quase nada havia para ser feito. Restou um unico exemplar da especie, bem no centro do vaso, que resiste bravamente, nao sei ate quando. E agora gasto horas a pensar onde esconderei o vaso ou o que direi quando os meus vizinhos me fizerem uma visita. Sem falar que tenho me esforcado e ate implorado ao que restou da planta, em longas conversas diarias, para que sobreviva ao periodo glacial a que foi exposto. Fiz promessas, disse que seria melhor daqui para frente, mas nao creio. Definitivamente, gosto de gente.
Salvador Dali, Vaso de Flores, aquarela.
Salvador Dali, Vaso de Flores, aquarela.
9 de mar. de 2006
Capricho
Nao sou afeita a muitos caprichos. Ate deveria se-lo. Meu ultimo analista recomendou que eu desse vazao aos meus desejos, aqueles mais vis, tolos, que chamou de vontade. Mas desde que aqui cheguei nao tenho tido tempo de me debrucar sobre minha alma para ouvir a voz interior que costuma revelar os segredinhos desta ordem. Nao que eu tenha pensado que seria facil conciliar vida profissional, emocional e domestica na terra do Tio Sam sem o auxilio luxuoso de D. Maze e Regina. Nem achei que um dia fosse acreditar que perderia algumas calorias enquanto passava o aspirador no carpete ou ainda que o vapor da agua quente na pia da cozinha pudesse rejuvenescer a pele. Tudo para manter em alta a relacao custo/beneficio a partir de uma versao contemporanea de Pollyana Rainha do Lar. Sem falar que considerando que tempo e dinheiro, melhor nao perder nem um milesimo de segundo; se ha lagrimas para chorar, que esperem pela hora do banho.
Mas tem algo que nao abro mao, em dias comuns ou nao, de segunda a sexta, final de semana e feriado, morta de feliz ou em plena depressao; depois de arrumada e penteada, porque nao dizer maquiada, afinal estamos na America, nao saio sem algumas gotas do meu perfume Mademoiselle Chanel, um luxo , por certo, para nao dizer um capricho. Se soubesse, meu analista me daria alta.
Mas tem algo que nao abro mao, em dias comuns ou nao, de segunda a sexta, final de semana e feriado, morta de feliz ou em plena depressao; depois de arrumada e penteada, porque nao dizer maquiada, afinal estamos na America, nao saio sem algumas gotas do meu perfume Mademoiselle Chanel, um luxo , por certo, para nao dizer um capricho. Se soubesse, meu analista me daria alta.
7 de mar. de 2006
6 de mar. de 2006
Hoje eu fui Embora
Hoje eu fui embora e cheguei tao longe quanto meus desejos me levaram. Sai com a roupa do corpo e em cada mao trouxe algo precioso, dos quais nao me desligaria nunca. Nada mais do que ficou para tras me pertencia, achei. E claro que chorei e tive a impressao de que nao me despedi de todo mundo. Mas melhor assim. Quando olhei o ceu azul turquesa que se abriu em minha frente decidi que queria um igualzinho pra mim, para sempre. Li o jornal do dia e os indices nao me assustaram como antes. Gostei quando as pessoas esbarraram em mim e ri quando perguntaram de onde eu vinha. Falei baixinho, nao sei se deu pra ouvir, que dali nunca havia saido.
5 de mar. de 2006
Pela Direita na Contramao
Estou inaugurando nova fase em minha vida. Depois de anos investindo nas funções do lado esquerdo do cerebro, que inclui a logica e a racionalidade, me rendi as funcoes do lado direito, que se manifesta atraves da emocao e se expressa atraves das artes, na esperanca de que algo diferente venha a acontecer.
Nada foi planejado. Na verdade ja tinha feito algumas tentativas de me aproximar do mundo nao-verbal, mas a necessidade de sobreviver falou sempre mais alto. Para alguem que sempre quis se mostrar independente, dona de suas proprias verdades, nao havia muito lugar para alimentar a veia artistica, o descompromisso com um produto previsivel e planejado.
Finalmente, vim parar aqui do outro lado do mundo, onde ninguem sabe ao certo quem sou ou do que penso ser capaz. A comunicacao verbal e um elemento perturbador de meus sonhos de outrora. Dar continuidade ao trabalho que vinha desenvolvendo no Brasil nunca me pareceu tao inadequado em terra estranha. Confesso que cheguei a insistir bastante neste sentido e cumpri com esmero meu programa de estudos. Mas falar uma segunda lingua e se valer dela nao e tao simples quanto parece. Junto com as palavras, quando se fala, expressa-se sua cultura, suas crencas, o meio em que cresceu quando desenvolveu a linguagem, os anos de convivencia com uma lingua que vem mudando de acordo com a historia daquela nacao. Talvez eu seja muito exigente comigo mesma, mas chegar no meio deste processo significa muitas vezes expressar de maneira mediocre o que se pensa de fato. Isso quando se pensa com o lado esquerdo do cerebro, quando se busca a logica, o padrao e nao uma maneira propria de ver o mundo.
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