18 de nov. de 2006

Castigo



Aquela última folha de outono decidiu que não sucumbiria aos caprichos do inverno; foi então que descobriu que estava fadada a ser vermelha para sempre. Posted by Picasa

8 de nov. de 2006

FeLiZ !


Filho que mora longe em tempos de internet é assim, você fica sabendo por onde e com quem anda nas páginas virtuais. Confesso que às vezes me surpreendo e me divirto com as descobertas, já que o mesmo não é necessariamente afeito aos detalhes ao compartilhar de suas proezas no mundo real. Então as tais fotos na rede falam por si e, às vezes, dão asas à minha imaginação.
Claro que como uma mãe que se empenha, não sem esforço, em ser moderninha e procura respeitar o espaço do filhote, me contenho e evito perguntar, por exemplo, o nome das gatinhas e da cowgirl daquela foto disposta no fotolog. Da mesma forma, não vou checar onde foi a festinha ou quando comprou os óculos de lentes roxas. Vida nada fácil essa das mães digitais.

Porém, o melhor de tudo isso, é não ter que ligar todo dia pra perguntar se o filho está feliz, é só visitar as páginas do Orkut, My Space, entre outros sites, e conferir o sorriso estampado no rosto. Impossível é evitar uma insinuação aqui, um comentário acolá, afinal as mães virtuais também são todas iguais.

Filho, fica aqui minha homenagem virtual e minha admiração, pra lá de real, por todas suas conquistas, traduzidas então nas pagínas do mundo digital. Feliz, bem feliz , aniversário. Posted by Picasa

7 de nov. de 2006

Pra Ver a Banda Passar



Graças ao Chico, bandas vão sempre cantar coisas de amor, chamar as pessoas à janela, livrá-las do lugar comum, do cansaço, da dor, como diz a canção que tantas vezes cantarolei, mesmo quando não havia visto ainda a marcha alegre se espalhar na avenida. E, enquanto não havia sido assaltada por esta magia, criei uma banda imaginária, a marchar sobre minha rotina, transformando tudo. Então pude ver os músicos e seus uniformes impecáveis, os chapéus de plumas coloridas e os instrumentos que reluziam sob o sol, atravessando a cidade. Com algum esforço, pude também ouvir a música, o soprar dos metais e o rufar dos tambores, contagiantes, insistentes.
O que eu não podia imaginar a aquela altura era que, um dia, a banda atravessaria minha vida, através da percussão da minha menina, a tocar, como ninguém, aquelas coisas de amor.


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26 de out. de 2006

PaRaBéNs PrA VoCê!



Este ano não vou me pintar de palhaço nem fazer os docinhos. Tampouco me dedicarei a confecção das lembrancinhas com motivo de super-heróis, naves espaciais e coisas do tipo. Sequer vou poder abraçá-lo ou dar um beijo estalado na bochecha, nem chamar toda a turma pra cantar parabéns pra você.
Já faz algum tempo que você não está ao alcance de meus braços e nem cabe mais em meu colo. Agora é você que tem estórias para me contar e, quando nos vemos, me leva para passear, me traz presentes e compartilha seus sonhos.
Mas há algo que não mudou, ainda guardo nos olhos um menino que me encanta pela forma como se lança na vida, pela perspicácia e pelas boas escolhas; a melhor delas, diga-se de passagem, atende pelo nome de Patty.
Sobrinho querido, admiro você!
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15 de out. de 2006

Álbum de Lua-de-Mel


Já foi convidado para ver álbum de casal em Lua-de-Mel? Pois bem, não dá outra, fotos dele e fotos dela, nenhuma foto deles, a não ser que um gentil transeunte tenha se oferecido para fotografar o casal. Mas não é sempre que os nubentes escolhem lugares devidamente habitados para passar alguns dias juntos, então é aquela monotonia mesmo o tal álbum. E a gente tem que repetir os comentários, meio que sem graça, pois as fotos acabam revelando uma certa intimidade desconcertante. A paisagem é sempre um detalhe, em primeiríssimo plano estão ali, ele e ela, captados pelas lentes apaixonadas dos pombinhos. Agora, se o álbum é seu é uma delícia folheá-lo, principalmente logo depois de organizado, quando as lembranças estão vivas e você parece que pode sentir o cheiro de cada lugar visitado. A propósito, por mais gentis que sejam os transeuntes que se oferecem para fotografar o casal, eles nem sempre contam com habilidades básicas para tal feito. Mas se a foto não revela o esperado, rende com certeza boas risadas. Posted by Picasa

9 de out. de 2006

Fontes, Moedas e Desejos



Um dia vi um catador de moedas, recolhendo das fontes os desejos ali lançados. Por certo o tal homem não acreditava em desejos, caso contrário teria ele mesmo relançado as moedas, todas de uma vez, e voltado pra casa com um sorriso no rosto. Posted by Picasa

8 de out. de 2006

Gatlinburg, Tennessee



Semana passada, nas ruas de Gatlinburg, encontrei minha rotina dançando valsa com o inusitado, se deliciando com os prazeres do ócio e se rendendo, finalmente, à sedução da preguiça.  Posted by Picasa

2 de out. de 2006

Sedução



Dizem que elas não sabem que vão morrer antes do inverno chegar, mas algo me faz pensar que as folhas de outono se vestem de novas cores na esperança de seduzir os deuses e convencê-los de que não há beleza nas árvores nuas que se oferecem insolentemente ao frio, ao branco e ao cinza.

Picture by Adriana - Soft Pastel-
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1 de out. de 2006

As Unhas Postiças da Professora



Não sei até hoje se as unhas dela eram postiças, mas D. Adélia, minha professora de piano, tinha unhas enormes, pintadas de vermelho sangue. Eu tinha pavor das unhas de D. Adélia, especialmente quando ela as colocava sobre minhas mãos, àquela época tão pequenas e pouco ágeis, quando alguma nota não correspondia ao que dizia a partitura. Além disso, quando ela, com uma certa impaciência, procurava mostrar a maneira correta de tocar a música, eu sempre me distraía com o barulho de suas unhas nas teclas, o que me parecia de certa forma uma outra música, quase aterrorizante. Não seria capaz de descrever o rosto de minha professora de piano na época em que tinha sete anos de idade, mas as suas mãos e, claro, aquelas unhas imensas, guardo até hoje na memória.

Desta forma, não foi com naturalidade que me senti impelida a comprar o conjunto de unhas postiças que vi na prateleira de um supermercado dias atrás. Há muito estava incomodada com minhas próprias unhas, castigadas pelo trabalho doméstico e, nos últimos dois meses, sempre em segundo plano, porque em primeiro estiveram sim os planos de aula, o jogos, as pesquisas, as provas, a relação com os alunos da high school em que iniciei o trabalho como professora de espanhol...diga-se de passagem, uma grande aventura. Pois bem, no meio de tudo isso estavam as unhas, todas quebradiças, sem brilho...nada parecidas com as garras de outrora. Cedi a tentação, mas voltei para casa pensando em D. Adélia, temendo causar igual impressão em meus alunos ao colocar as unhas de fora, como se diz no popular.

Na orientação que vinha na caixa das tais unhas postiças foi sugerido algumas poucas gotas de cola por unha. Baseada em experiencias de terceiros resolvi não arriscar, caprichei então na quantidade de cola para não correr o risco de perdê-las. Achei o fim da picada saber que uma insistente coceira no braço significou a perda de três unhas de uma amiga ou ainda que o abrir de uma simples lata de refrigerante ameaçou pelo menos duas de outra.

Porém, no último dia de aula da semana passada, quando comemorava a véspera de um intervalo de duas semanas sem aulas no início do outono, estávamos eu e minhas unhas postiças, lépidas, a encher de arroz as maracas produzidas pelos alunos, indo em suas carteiras, um após o outro. Celebrávamos o mês da herança hispânica e falávamos da cultura dos países em que falam espanhol. Foi quando um aluno me chamou e trouxe entre os dedos o que imaginei serem grãos de arroz que haviam caído no chão. Mas o que ele trazia para mim, com um cuidado ímpar, era na verdade a unha postiça de meu dedo mindinho que caiu desavisada sobre a sua mesa. Depois de superar a sensação do ridículo, seguida de uma incontrolável crise de riso, pude ouvir o fantasma de D. Adélia, com suas unhas vermelho sangue, bolando de rir.

Picture by:

Beverley Ashe
Woman with Red Nails . 8x6 . acrylic on wood
http://www.beverleyashe.com/womanwithrednails.html Posted by Picasa

11 de set. de 2006

11 de Setembro de 2001


Há cinco anos atrás, quando ela tinha 8 anos, passou a viver em um país distante e, por longos seis meses, não entendeu nada do que lá se falava.
Foi e voltou em um ônibus amarelo da escola, onde almoçou todos os dias, sem nunca entender porque jamais serviram arroz e feijão no lugar de pizza e cachorro-quente.
Em casa, não encontrou nenhum brinquedo dos que havia brincado até então e teve que aprender a jogar baseball e não mais futebol, que aprendeu a chamar de soccer.
As roupas que tinha não a protegeram devidamente do frio, sensação jamais vivenciada, e se encontrou no espelho vestida com casacos alheios, cores que não eram as suas preferidas, tamanho que não era exatamente o seu.
Não foi mais a casa dos avós aos domingos, nem mais a praia com o pai e os amigos. Olhou para os lados e não reconheceu nada do que via.


Talvez por isso, quando viu na TV os dois aviões atravessando as Torres Gêmeas, em Nova York, o fogo, o medo e as lágrimas, não se desesperou. Pegou uma folha de papel e um lápis e registrou o ocorrido, como quem assistiu a um filme.


Picture by Daniela Lima-2001 Posted by Picasa

9 de set. de 2006

Éramos Sete




Somos três. Já fomos quatro, cinco e também seis. Eventualmente fomos dez. No inverno passado éramos sete. Hoje, da sala vazia, ainda posso ouvir a conversa que vem dos quartos, o barulho na cozinha, a risada incontrolável, a cantoria nem sempre afinada. Não dá para esquecer a preguiça de acordar, a espera para usar o banheiro, o carro lotado, o medo do novo, a escala de trabalho doméstico, as horas gastas na internet, os scrapbooks, as saídas de madrugada, a pipoca, os abraços. Ah, os abraços... quatro a menos por dia, cento e vinte a menos por mes, mais de mil abraços por ano...Saudades de vocês!

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7 de set. de 2006

Ainda Aguia, Quase Galinha



Não me lembro quando tirei a fantasia de águia e vesti a de galinha, mas não deve ter sido uma decisao fácil, até porque voar sempre me pareceu mais fácil que manter os pés firmes no chão. Ser galinha tem me custado litros de suor e lágrimas, especialmente neste novo cenário. É bom que se saiba que, ultimamente, os cenários têm mudado com uma certa constância ou então, tenho pensado muito nisso, estou mesmo ficando velha, uma galinha velha. Não, não se trata de uma queixa. Não há nada de errado em ser uma galinha, posso até enumerar uma série de vantagens, a começar pelo fato de que uma galinha não tem que sair apressada em busca de alimento, acaba se conformando com uma minhoca dali, uma oferta de milho acolá e me parece bem feliz com isso. Além disso, o que se diz por aí é que galinha velha é que dá bom caldo. O problema é que achei que atuaria como águia para sempre e ainda hoje, quando olho no espelho, não me reconheço. Minha alma de águia ainda espera ver refletido o bico envergado, a plumagem branca e marrom, as garras afiadas, o olhar de orgulho. Tenho que confessar que também nunca aprendi a cacarejar, como convém a uma galinha, velha ou não. E uma galinha que não cacareja não merece assim tanta consideração, não passa de uma caricatura de galinha. E assim, não mais uma águia e nem ainda uma legitima galinha eu sigo; às vezes olhando para o alto, voando, outras olhando para o chão, ciscando...

Picture by Marcus ResendePosted by Picasa

4 de set. de 2006

MADE IN BRAZIL

Conheço todas as ruas por onde passo, poderia percorrer algumas de olhos fechados. Os cheiros e mal cheiros, o clima, a brisa, a luz incomparável que dá vida a tudo ao redor . A cor do mar que se insinua entre dois enormes prédios que posso ver através da janela. O sotaque nordestino, as expressões irreverentes que saem fácil e me roubam um sorriso . A comida farta, o sabor apurado, as frutas que muita gente do lado de lá nem faz idéia que existem. Tudo tão familiar, tão parte de mim. Mas me sinto estranha. Passo despercebida quando transito na multidão que se esbarra nos shopping centres; nenhum rosto me parece conhecido, não me lembram nada, tudo novo como quando aquí pisei pela primeira vez. Nas filas do supermercado, todas intermináveis, fico observando as pessoas como se não estivesse ali, como se fosse mera espectadora. Enquanto isso minha mente se ocupa em traçar comparações de toda ordem e me leva a crer que hoje sou um misto de coisas que as vezes nem combinam, o que de imediato me garante um certo ar de satisfação. Sou aquela mulher na fila que, de pé, abaixa as alças da blusa para amamantar o filho impaciente. Sou também o pudor de fazê-lo em tal ambiente, apinhado de gente e saio para onde sempre há um lugar reservado aos cuidados com os bebês. Sou o cliente que reclama do preço registrado, totalmente diferente do que está disposto junto ao produto na prateleira, e fica a esperar por um longo tempo por alguém que resolva o impasse, quando enfim decide ele mesmo sair em busca da etiqueta para provar que está certo. Mas sou também o cliente que tem sempre razão e não precisa mais do que afirmar que o preço registrado não está correto e dizer, ele mesmo, o valor a ser considerado. Sou a pessoa que fura a fila como se ninguém pudesse vê-la, a que deixa o carrinho guardando seu lugar e fica a ir e vir, trazendo lotes de produtos até enchê-lo por completo, a que obriga a todos a esperar para que vá buscar algo que esqueceu, a que não teve aprovação do cartão de crédito e resolve ligar para a central e declarar alto e em bom tom tudo o que não nos interessa sobre sua vida financiera, sou o cliente de trás que esbarra o carrinho em seu tornozelo e não pede desculpas, o rapaz que trabalha como caixa e não se dirige a você com um cordial bom dia ou ainda um volte sempre…Mas sou também uma certa formalidade nas relações, uma gentileza que muitas vezes nos distancia de tão cuidadosa, uma fila onde as pessoas não se tocam, um não saber da vida do outro que nos mantém na superficie, um milhão de desculpas que se diz por minuto, a preocupação em não causar problema ao próximo. Sou cidade grande e cidade pequena, muro pichado, lixo nas calçadas e casas sem muros, multa para quem joga papel da rua. Sou medo de ser assaltada ( estou em pânico!) e da mesma forma a certeza de que ninguém invadirá minha propriedade. Estrangeira em minha própria terra, sou também cidadã, totalmente indignada.

Escrito no Brasil em junho de 2006 Posted by Picasa

30 de mai. de 2006

Pode Armando o Coreto e Preparando Aquele Feijão Preto...


Pois é, estamos voltando. Por um mes ou dois que sejam, para uma visita, uma temporada, chame como quiser, mas estamos a caminho do Brasil. Não é força de expressão, chegar a terrinha não tem sido assim tão fácil. Não me refiro ao preço das passagens, a arrumação interminável das malas, a procura das encomendas..nada disso. Falo do trajeto, cada vez mais longo e complicado. Saímos de casa pela manhã para a cidade mais próxima, a uma hora e meia de Campbellsville, onde se encontra o aeroporto. Entramos em um avião que mais parecia um desenho infantil, de tão precário, e fomos até Cleveland, ao norte, direção oposta ao nosso destino. Descemos no aeroporto e andamos milhas ate o portão de embarque que nos levaria a Miami, no sul. Ao chegar na cidade, nos encaminharam a um hotel, as custas da Varig, pois cancelaram o voo noturno por contenção de despesas. Amanhã às seis da matina saíremos de volta ao aeroporto de Miami, sobrevoaremos as cidades do nordeste, rumo ao Rio de Janeiro, no sul. Após passarmos pela chatisse da alfândega, pegaremos outro avião até Aracaju, no norte, que lá estará pousando a uma hora da manhã na quinta. Me sinto em uma expedição, um aventura, uma loucura que se faz de vez em quando na vida. Mas quando penso nos abraços calorosos, na família, nos amigos, naquela água de coco, no churrasco, o caranguejo, na coxinha de galinha... acho que faria o trajeto toda semana. Posted by Picasa

20 de mai. de 2006

Medão e Medinho



Esta semana eu vi o medo dobrar uma esquina na cidade de São Paulo e vir bater aqui, em Campbellsville. Enquanto minha imaginação foi ao Brasil e começou a fazer um discurso com todos os verbos conjugados no presente-pra-lá-de-imperfeito, aqui, um tornado se formou em milésimos de segundos e levou para os ares uma locadora de vídeo em um ponto central da cidade. Foi assustador, mas não rendeu mais que uma pequena nota nos jornais. Ninguém pra culpar, nenhum fenômeno social a ser estudado ou relatório a ser redigido em linguagem cifrada. Nenhuma necessidade de negociação com a companhia de seguros, que arcará com todo o prejuízo. Pessoas prontamente levadas ao hospital, ausência de vítimas, todas sabiam exatamente o que fazer em situações como esta. A única questão que ainda paira em minha mente é o que fazer com os dois filmes que havia alugado na semana passada naquela locadora. Quanto a situação no Brasil...posso jurar que vai dar um longuíssima metragem.

Foto by Marcus Resende Posted by Picasa

17 de mai. de 2006

Insegurança Alimentar...é Grave?

400 Hungry People, by JAO


Esta semana estive apresentando o Brasil para meus pequenos alunos. De vez em quando sou chamada pela universidade e escolas para falar da nossa cultura, música, comida, das nossas cores... mas só do verde, amarelo, azul e branco, não costumo falar da coisa preta, já cantada por Hime e Chico, deixo que a CNN faça isso. Porém há algo pra lá de cinza que sempre menciono pra ver se os americanos aos quais tenho acesso pensam duas vezes antes de jogar tanta comida fora. E isso não pára por aí, todos os dias na escola em que trabalho é o mesmo sermão na hora do lanche, a Ms. Adriana tem que lembrar que há muita fome no mundo, inclusive no Brasil, que por favor eles guardem o resto daquilo que não querem para comer mais tarde, evitando o desperdício. Uma vez, devo ter feito um drama maior que o usual, pois uma aluna do jardim de infância, compadecida, se ofereceu prontamente para ceder o conteúdo de sua lancheira para que eu levasse aos meninos carentes no Brasil. Lá veio ela com uma carinha de piedade , com frutas, biscoitos e uma caixinha de suco na mão, disposta a fazer abstinência naquele dia. Devo ter exagerado, hoje sei que sim. Eu falei em fome, miséria, desgraça, mas descobri que não me expressei direito. Assistindo a Globo internacional dias depois, pude constatar que existem 78 milhões de brasileiros que sofrem falta ou escassez de alimentos e chamaram isso de insegurança alimentar grave (existiria a categoria amena?). Segundo eles, a população com dificuldades de acesso a alimentos, significa 40% do total de habitantes do país. Categorizados desta maneira, não me parece assim tão mal. Pelo que pode-se entender, as pessoas com dificuldades de acesso a alimentos certamente têm algum tipo de problema não identificado que as impedem de alcançar alimentos, por certo disponíveis em algum lugar também não identificado. O problema deixa de ser a impossibilidade de acesso a uma boa escola, a um bom emprego, a uma renda decente e passa a se chamar dificuldade de acesso a alimentos. Culpa da população e seus impedimentos, culpa do alimento, irremediavelmente inacessível. Quero saber onde fica a palavra fome nos relatórios cheios de eufemismos do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome ( seria aqui?), que gaba-se por ter enfim, junto ao IBGE, quantificado a desigualdade no Brasil. Mais uma vez devo estar superestimando os problemas no meu país verde e amarelo. Vou tomar mais cuidado com as palavras na próxima palestra. Só não sei como traduzir para o inglês as expressões criadas pelo governo brasileiro em nosso romântico português. No dicionário pragmático do Tio Sam alguém que é privado de comer tem mesmo é fome.

P.S. Espero que não mudem o nome da campanha "Fome Zero" para "Insegurança Alimentar Zero", acho que Betinho não aprovaria.


Image: JAO aka J. A. O'Baoighill
Minneapolis, Minnesota USA

“400 Hungry People”66"x 66"
Mousepad Stamped on Canvas 12-31-2000

14 de mai. de 2006

Pra Você que não é Mãe...



Já deu pra perceber que hoje não há espaço pra homenagear mais ninguém, só dá mãe do começo ao fim. Triste daquele que faz aniversário no dia de hoje e não é mãe, de quem é digno de qualquer apreciação, fez uma boa ação, doou dinheiro, teminou de escrever um livro, encontrou a cura do câncer...se não for mãe antes de tudo, a festa e o reconhecimento ficará pra amanhã. Hoje é dia de sair para comer fora, ouvir que é alguém muito importante, ganhar beijos estalados, abraços a cada cinco minutos e, melhor, nada de trabalho doméstico. Melhor aproveitar. Amanhã tudo volta ao normal, as mães todas retornam a sua tarefa principal que é salvar a humanidade, começando por seu universo particular. Saem as roupas cheias de graça do almoço de domingo, os cabelos alinhados, as unhas feitas, os cartões cheios de palavras doces, os presentes, as flores. Entram o turbilhão de tarefas para resolver, todas de uma vez, e a certeza de que pode dar conta de cada uma delas com esmero; retorna a luta pra pensar um pouco mais em si mesma ao invés de passar o tempo todo dedicada aos outros, a promessa de que fará yoga, natação, que começará a caminhar no final da tarde, que se matriculará em um curso, saíra pra jantar, irá ao cinema sozinha; volta a mesma ladainha que tudo o que faz é para o bem dos filhos, o que eu posso jurar que é mesmo verdade, as promessas de que não vai chorar, seja de emoção ou saudade (tudo mentira!), o sussurro baixinho “não tenha medo, eu estou aqui”, mesmo quando não sabe ao certo o que fazer. Volta tudo, com a mesma intensidade. Porque mãe é do jeitinho que dizem, são todas iguais, só mudam de endereço e , eu diria, de país. Não pensem que as mães americanas abrem a porta de casa para os filhos saírem aos 18 anos, como reza a lenda, a maioria deles sai mesmo pela janela, muitas vezes empurrados pelo pai. Elas também vão as festinhas da escola e derramam muitas lágrimas, dão beslicões discretos no amiguinho do filho que o empurrou no recreio, chamam o seu adolescente pelo apelido na frente dos colegas, pensa que o filhote não sobreviverá sem os hot dogs que só ela sabe preparar. Igualzinho as mães do Brasil...Japão, Inglaterra.
E pra você que não é mãe, mas é boadrasta, madrinha, tia coruja, pai presente, tutora, professora, avó de plantão, receba também a homenagem. Caso contrário, volta amanhã.
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YARDSALE- Vide Bula-

YARDSALE

I) IDENTIFICAÇÃO DO MEDICAMENTO


APRESENTAÇÕES COMERCIALIZADAS:

Fenômeno amplamente difundido na América que consiste na exposição e venda de produtos, usados ou não, disponibilizados informalmente em jardins e, algumas vezes, em garagens, neste caso chamados de garage sale.


COMPOSIÇÃO:

Cada YARDSALE contém inúmeros itens, alguns de gosto duvidoso, porém todos igualmente passíveis de serem adquiridos por alguns poucos tostões , afinal a tônica “gosto não se discute” impera absoluta sobre o fenômeno.

II) INFORMAÇÕES AO PACIENTE

1.COMO ESTE MEDICAMENTO FUNCIONA?

O uso contínuo de YARDSALE reduz altos níveis de ansiedade, chamada stress (principalmente devido a dinheiro curto ou impossibilidade de adquirir um bem desejado em lojas do ramo). Esta redução é geralmente obtida imediatamente e com a continuidade do tratamento é mantida por tempo indeterminado.

2. POR QUE ESTE MEDICAMENTO FOI INDICADO?

YARDSALE está indicado para reduzir a frustração e a ansiedade quando sua conta bancária não permite que você se delicie nas lojas dos shopping centers. Se os altos níveis de ansiedade não são tratados, podem ocorrer tentativas desesperados do uso indevido do cartão de crédito e/ou do cheque especial. Este fato é uma das causas mais comuns de depressão, divórcio ou entradas no SPC.

3. CONTRA-INDICAÇÕES:

YARDSALE é contra-indicado a pacientes com hipersensibilidade a roupas e objetos usados. Também é contra-indicado a pacientes com frescura crônica ou aguda.

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: O uso de YARDSALE NÃO é contra-indicado durante a gravidez e a lactação e às mulheres com potencial de engravidar que não estão usando métodos contraceptivos apropriados. Ao contrário, por certo serão encontrados itens muito úteis para o enxoval dos recém- nascidos, assim como para o vestuário da futura mamãe.

4. MODO DE USAR E CUIDADOS DE CONSERVAÇÃO DEPOIS DE ABERTO:

Modo de usar
YARDSALE deve ser usado logo depois de aberto para que não se percam as ofertas mais tentadoras. O segredo é ficar à espreita, antes da hora marcada para o início do evento, e administrá-lo prontamente.


5. POSOLOGIA:

A faixa de dose é de 4 YARDSALES por dia, nos finais de semana. A dose máxima diária é de 6 doses. A dose de YARDSALE deve ser individualizada de acordo com a meta da terapia e a resposta do paciente. A maioria dos pacientes é controlada na dose inicial, mas tende a perder o controle facilmente. Pode-se chegar em casa com mais bagulhos do que se previa, o que obrigará o paciente a organizar o seu próprio YARDSALE em poucas semanas.
YARDSALE pode ser administrado em horário comercial, com ou sem alimento. Porém e recomendável que se esteja bem alimentado para suportar o rojão.

Crianças: Não foi estabelecida a segurança e eficácia em crianças, mas sabe-se que a maioria parece responder bem ao tratamento quando têm pais que estão sob a mesma terapêutica.

Idosos: Utiliza-se a faixa de doses habitual.

Raça: Tem sido observada uma concentração de ansiedade aumentada em latinos. Este grupo parece se envolver mais fortemente com a terapeutica. O balanceamento da dose deve ser levado em consideração no tratamento de pacientes latinos que moram na América, cujas contas bancárias não são adequadamente controladas.

Terapia concomitante: YARDSALE mostrou apresentar eficácia adicional quando usado em associação com GARAGE SALE e lojas de usados. YARDSALE também pode ser usado em associação com bazares e flea markets.

Efeito sobre a capacidade de dirigir veículos: Baseado em testes farmacológicos, espera-se que YARDSALE afete a capacidade de dirigir veículos, devido ao alto grau de distração na busca dos fenômenos distribuidos na cidade. Muitas vezes, YARDSALES não são facilmente localizados, o que exige viradas bruscas em ruas estreitas quando se vê sinais de sua existência. Deve-se redobrar a atenção no trânsito quando da administração do medicamento.

6. SUPERDOSE:

Não há um tratamento específico para a superdosagem. Pode-se indicar ao paciente a organização de um YARDSALE em seu próprio jardim para eliminar o excesso do produto ou ainda sugere-se uma doação a lojas de usados que arrecadam dinheiro para os desvalidos, como por exemplo o Exército da Salvação ou Good Will.

ATENÇÃO: este não é um medicamento novo mas, embora as pesquisas tenham indicado eficácia e segurança aceitáveis para uso, efeitos indesejáveis e não conhecidos podem ocorrer. Todavia, quase sempre, descobre-se pequenos tesouros. Entenda-se por tesouros, aquilo que alguém não quer mais de jeito nenhum e para você nunca pareceu tão útil, charmoso ou até mesmo reconhecidamente desnecessário, porém, absolutamente irresistível. Esta é a magia dos yardsales, ambas as partes,vendedores e compradores, têm a sensação de que estão fazendo um ótimo negócio. É bom que se saiba que há 100% de chance de YARDSALE causar dependência.

7 de mai. de 2006

O Joelho é o Limite




Ultimamente nessa casa não se faz outra coisa a não ser festa. É bom saber que ainda não é tudo, daqui até o fim do mês ainda temos mais duas boas razões para comemorarmos. Pois bem, mas ontem foi a vez do Marcus, mais uma graduação , a primeira na América, e também da Tici. Tudo igualzinho ao que vimos nos filmes, o mesmo ritual e até o cenário parece o mesmo. Os eventos americanos seguem quase sempre a mesma formatação, não há lugar para surpresas na programação. Como a cerimônia foi ao ar livre e a possibilidade de uma chuva já tinha sido cogitada, um plano B foi divulgado na rádio e jornal locais. Mas nem tudo é previsível por aqui, mesmo em eventos tradicionais como uma festa de graduação. Primeiro é bom explicar que os formandos não têm opção alguma de alugar as vestimentas, que estarão estreando no evento, em lojas especializadas, como no Brasil, para não dar margem a possíveis diversificações no modelito. Não podem sequer pegar emprestado a beca do irmão que teria se formado antes. Uma taxa é incluída em sua conta na tesouraria da universidade e tudo o que você tem a fazer é pegar um pacote com tudo prontinho dentro. Mesma cor, mesmo tecido, mesmo modelo, mesmo número de pregas. Só se tem direito de escolher o tamanho e os sapatos. Aí entra a melhor parte. Aproveitando essa concessão à liberdade, os alunos arrasam no quesito originalidade e, alguns, capricham na irreverência. No meio daquele monte de pessoas, todas aparentemente tão iguais, descobre-se que há vida criativa um pouco abaixo do joelho.



4 de mai. de 2006

Ela viu um Passáro Azul!



Ela viu um pássaro azul, aquele que eu vinha procurando há dias. Mais que isso, ela roubou do pássaro um instante e mandou pra mim. Ah, os amigos...são ombros disponíveis, mãos estendidas, ouvidos atentos e são olhos também. Agora já posso dizer que vi um pássaro azul. Espera até que eu conte tudo o que ele me disse.

Foto by Lília Lima
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29 de abr. de 2006

PROM



Quando a gente pensa que já sabe tudo desta cultura, aparece mais uma coisinha pra aprender. E agora com filho terminando a High School, tem surgido novidades mil. A de hoje foi a festa do Prom, celebração que marca o fim de uma maratona de pelo menos 12 anos de estudos. Prom é abreviatura da palavra promonade, uma referência as danças formais do fim do século XIX. As primeiras festas deste tipo tiveram início nos anos 20 e nos anos 30 já eram bem comum em todo país. Claro que nada se compara a superprodução organizada nos dias de hoje, mas mantêm uma certa similaridade. Sabe-se que os jovens daquela época eram incentivados pelos pais e professores a comparecerem ao evento, a fim de desenvolverem habilidades sociais. A festa se dava no ginásio da escola, decorado com simplicidade e metros e metros de papel crepom colorido. Rapazes de paletó e moças em roupa de domingo jantavam juntos no fim da tarde e então dançavam com desenvoltura no salão. Claro que antes disso, os então convivas teriam enfrentado seus medos e insegurança, assim como os jovens de hoje, e também seus desejos, por vezes secretos, na busca do seu par ideal. Muitas vezes o baile era apenas um pretexto para que uma paixão recolhida finalmente viesse à tona. Tarefa impossível para os mais tímidos, esta era, e continua sendo, a parte mais difícil, mas não a única, nem a última. Hoje, convite aceito, muito há a ser feito e gasto até a chegada do grande dia. Na verdade, a indústria do Prom faz gerar milhões de dólares com a venda de vestidos cor de rosa, sapatos de saltos enormes, bouquet de flores naturais, paletós e fraques elegantes, quilos de maquiagem, laquê de cabelo, gel, limousines luxuosas e muito, muito brilho. E no meio de toda briga das americanas por igualdade, ainda se espera que os rapazes se responsabilzem pelos custos com as flores, o jantar, o transporte e as fotos de estúdio. É o preço, quase sempre bem alto, que pagam para dançar com a Cinderela de seus sonhos. Dizem as más linguas , que é mais ou menos uma amostra do que viverão dali pra frente caso, ao soar das doze badaladas, ao invés de correr, elas decidam não sair mais do seu pé.




http://www.bookrags.com/history/popculture/prom-bbbb-02/ Posted by Picasa

28 de abr. de 2006

Sonhos



De tanto sonhar o mesmo sonho, às vezes não acredito mais nele. Fica assim meio embassado, mas não necessariamente desgastado. Acho que isso não, os sonhos têm essa vantagem, não se desgastam. Mas quando um sonho demora muito pra se realizar, melhor dar um tempo, fingir que nem vê, ou melhor, que nem sonha. Então ele acaba vindo.Os sonhos, alguns deles, vêm de mansinho, são gentilíssimos, gostam de surpreender.

Tem também os sonhos que a gente nem quer que se realizem, só pra ficar acalentando os mesmos ao longo da vida, até porque, uma vez realizado, lá vai você ter que pensar em outro rapidinho. E nem sempre a gente tem um sonho melhor pra colocar no lugar do que se realizou. Você fica alegre, mas vazio de sonho.

Há algum tempo eu tenho sonhado uma porção de sonhos de uma vez e nem consigo perceber o que estou sonhando. Sonho pra mim, sonho pros filhos, pros amigos, pra família... E assim, tem sempre um sonho ou outro se realizando.

Esta semana foi a vez do Filipe. O sonho dele, que também era meu (sim, tem aquela estória de "sonho que se sonha junto"..) se tornou real, ou melhor, possível. Estudar na University of Kentucky era há alguns meses um sonho. Um sonho caro e aparentemente inacessível, senão não era sonho. Mas de olhos bem abertos a gente decidiu apostar nele. Este tipo de sonho é aquele que a gente quer que aconteça, pois outros sonhos subseqüentes já estão sendo sonhados. Não vou dizer que foi fácil, o que preenchemos de papel não foi brincadeira. Daí foi uma longa espera. E, quando eu pensei que recebemos o bastante, nem percebi que não tínhamos tudo. Tenho essa mania de me conformar com pouco, com uma parte. Felizmente os deuses não me levam a sério e acabaram trazendo o sonho inteiro.

Não sei o que Filipe vai levar das coisas que lhe ensinei em sua bagagem, quando for para a UK em agosto, mas se tiver aprendido a sonhar, já me dou por satisfeita.
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27 de abr. de 2006

Backyard



Minha alma de passarinho não resiste a um mergulho e prefere os quintais aos jardins.

Foto by Marcus Resende Posted by Picasa

25 de abr. de 2006

Benditas Sejam as Coisas que não Existem



Andei mexendo em umas caixas, tenho mania de guardar papéis, principalmente se trazem algo de memorável, como desenhos infantis. Eles sempre me remetem a um certo espaço de tempo, que muitas vezes não sei precisar quando. Mas isso não importa, acabo me perdendo no labirinto das horas e me divirto quando não consigo achar a saída. Foi então que encontrei meu pai e minha mãe em uma folha de papel de caderno. Pude perceber os traços de minha filha por cima daquelas linhas de um azul bem clarinho. Desde que chegou na América, quando está sentindo falta de alguém, Dani costuma trazer para perto o sujeito da saudade, com o simples deslizar de um lápis. Uma vez a encontrei dormindo abraçada com o pai, os avós e alguns amigos chegados, todos juntos no mesmo papel. Tive que fazer força para controlar as lágrimas, sou meio fraquinha para cenas do tipo, ainda mais no mundo real. Pois bem, desta vez ela retratou o avô, como sempre sentado em seu escritório, jornais sobre a mesa, TV ligada, pijaminha de botões. Pude ver também a avó, com um sorriso largo, mãos para cima e jeito de quem faz festa. Compôs o cenário com árvores semelhantes as que faziam sombra no jardim da casa deles há algum tempo atrás e podiam ser vistas através da janela grande de vidro. Eu que estava tão abatida com o fato do meu pai estar internado em um hospital e por me sentir impotente estando aqui tão distante, tive que me render a lógica da Dani. Me coloquei frente a tela do computador e resgatei as histórias que ele me contava quando eu ainda cabia em seus braços. Viajei nas asas do Cavalinho Misterioso e a primeira coisa que fiz foi tirar meu pai, Quinzito, daquela cama fria de hospital para darmos uma volta no país das coisas que não existem. Lá me disseram que se a gente quiser ver o que não existe vai ter que fechar os próprios olhos para que a imagem finalmente surja. Daí pude ver claramente meu pai e minha mãe saltando daquele desenho que ainda tinha nas mãos. Mas desta vez nem tentei reter as lágrimas. Porém, pude ouvir o Rubem Alves a sussurrar em meu ouvido a pergunta do poeta francês Paul Valéry: "Que seria de nós sem o socorro do que não existe?"

19 de abr. de 2006

O Vizinho de Novo

Há quem diga que a grama do vizinho é sempre mais verde, pois eu acrescentaria que as tulipas que ele cultiva são também mais, muito mais, bonitas. É bom frisar que não há o minímo efeito especial na foto, as flores são cópia fiel do jardim da casa da frente. Você há de concordar que as tais flores parecem feitas de tecido aveludado, mas são vivinhas, juro. E estas quatro não são as únicas que o vizinho ostenta, existem outras tantas, todas enfleiradas contra o muro. Aposto que ele usou régua e tudo quando colocou as sementes na terra com seu dedo pra lá de verde. Morro de inveja, já falei. E fico a me perguntar quando foi que o camarada plantou as tais sementinhas, pois até agora ainda me encontro confusa com a mudança de temperatura, ora frio, ora calor... sem falar nos torós repentinos, nas ameaças de tornados. Já ouvi falar que ele começou cedo, desde outubro passado, no outono. Até as plantas obedecem a uma programação rígida, pelo menos por aqui. E elas sabem direitinho quando devem dar o ar de sua graça. Acho que vai levar um tempo para eu me acostumar com isso. Mal chegou a primavera e os americanos já estão se preparando para o verão. E não é só de flores e sementes que estou falando. O guarda roupa deles já está abarrotado de shorts e sandálias, chapéus e protetores solar. As roupas em tom pastel, que celebram a primavera, já estão em promoção nas lojas e ningúem dá mais quase nada por elas. Olhando assim, pareço mais com os bombeiros da cidade, sempre alertas aos chamados emergenciais, apagando incêndios aqui e ali...sem programação certa para o dia de amanhã. Afinal, por aqui ninguém arranjou ainda um jeito de prever se a casa vai pegar fogo ou se seu gatinho vai ficar preso no telhado. Mas por isso mesmo, os meus conterrâneos deixam centenas de dólares nas companhias de seguro. Na terra dos planejamentos estratégicos, melhor pagar para não ver, just in case.

Foto by Marcus Resende
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