25 de mar. de 2011

A Mola no Fim do Poço





Dizem que no fundo de todo poço existe uma molinha e que esta, quando atingida, nos impulsiona de volta à superfície, livres e lépidos. Mesmo estando ainda em plena queda livre, aqui me encontro, disposta a falar mais de molas do que de poços; o problema é que chegar ao fundo destes leva um certo tempo e aguardo impaciente o momento do impacto, quando fatalmente serei impulsionada rumo ao caminho inverso àquele que me levou escuridão abaixo.

Você pode chamar a molinha como quiser, ela atende pelo nome de providência divina, acaso, segredo, anjo da guarda, pensamento positivo, fé, merecimento, destino...e outros tantos apelidos, todos justificadamente carinhosos. É que quem experimenta a queda, durante seu aparente interminável trajeto, aprende a manter contato profundo com um mundo invisível, onde habitam personagens muitas vezes desconhecidos, a começar por você mesmo.

Antes da tal molinha aparecer, a gente passa a conviver com sensações nem sempre bem-vindas: o choro vem fácil, o mundo vai acabar, todos parecem mais irritantes do que nunca, mais lentos, mais ingratos, comumente ineficientes...os talentos pessoais desaparecem , óbvios que sejam; nada parece excitante, saboroso ou convidativo. Dormir é sempre visto como uma boa saída; mas quem falou que o sono vem fácil para todos aqueles que caíram no tal poço?

Porém, um belo dia, sem qualquer aviso prévio, pelo menos não daqueles que vêm por escrito, a gente dorme miserável e acorda bem cedo com uma esperança surpreendente; é que quando se chega num certo ponto do poço, atinge-se a superfície da molinha e esta finalmente move-se para baixo com força diretamente proporcional ao peso do corpo e da alma ( sim, nesta época tudo isso fica ainda mais pesado) é então que algo nos diz que a queda está perto do fim.

Estar perto do fim não é o fim. Depois de meses caindo, ninguém está necessariamente preparado para vir à tona. Sim, porque quando a mola passa a atuar, sequer dá tempo de passar um batonzinho básico. É a hora do vamos que vamos ou se agarra na mola e fica ai pra sempre, meu bem. Melhor sair de cara lavada mesmo que ficar condenado a esperar resgate pelo resto da vida.

É sabido, contudo, que há quem prefira ali se instalar, travestidos de vítimas do mundo, chegam a ignorar as operações de salvamento. Outros desenvolvem hiper sensibilidade à luz e, quando na superfície, se lançam, aliviados, de volta à escuridão já conhecida.

Depois de um certo tempo caindo, é comum se começar a duvidar da existência das molas propulsoras. Mas, quando isso acontece, é só um sinal de que elas estão bem próximas e não tarda a hora em que virão em seu socorro. Diretamente do fundo do poço, provavelmente a poucos minutos de ser lançada para fora desse tubo escuro e frio, aceno com um sinal de esperança:

Yo no creo en molas propulsoras, pero que las hay, las hay