30 de mai. de 2006

Pode Armando o Coreto e Preparando Aquele Feijão Preto...


Pois é, estamos voltando. Por um mes ou dois que sejam, para uma visita, uma temporada, chame como quiser, mas estamos a caminho do Brasil. Não é força de expressão, chegar a terrinha não tem sido assim tão fácil. Não me refiro ao preço das passagens, a arrumação interminável das malas, a procura das encomendas..nada disso. Falo do trajeto, cada vez mais longo e complicado. Saímos de casa pela manhã para a cidade mais próxima, a uma hora e meia de Campbellsville, onde se encontra o aeroporto. Entramos em um avião que mais parecia um desenho infantil, de tão precário, e fomos até Cleveland, ao norte, direção oposta ao nosso destino. Descemos no aeroporto e andamos milhas ate o portão de embarque que nos levaria a Miami, no sul. Ao chegar na cidade, nos encaminharam a um hotel, as custas da Varig, pois cancelaram o voo noturno por contenção de despesas. Amanhã às seis da matina saíremos de volta ao aeroporto de Miami, sobrevoaremos as cidades do nordeste, rumo ao Rio de Janeiro, no sul. Após passarmos pela chatisse da alfândega, pegaremos outro avião até Aracaju, no norte, que lá estará pousando a uma hora da manhã na quinta. Me sinto em uma expedição, um aventura, uma loucura que se faz de vez em quando na vida. Mas quando penso nos abraços calorosos, na família, nos amigos, naquela água de coco, no churrasco, o caranguejo, na coxinha de galinha... acho que faria o trajeto toda semana. Posted by Picasa

20 de mai. de 2006

Medão e Medinho



Esta semana eu vi o medo dobrar uma esquina na cidade de São Paulo e vir bater aqui, em Campbellsville. Enquanto minha imaginação foi ao Brasil e começou a fazer um discurso com todos os verbos conjugados no presente-pra-lá-de-imperfeito, aqui, um tornado se formou em milésimos de segundos e levou para os ares uma locadora de vídeo em um ponto central da cidade. Foi assustador, mas não rendeu mais que uma pequena nota nos jornais. Ninguém pra culpar, nenhum fenômeno social a ser estudado ou relatório a ser redigido em linguagem cifrada. Nenhuma necessidade de negociação com a companhia de seguros, que arcará com todo o prejuízo. Pessoas prontamente levadas ao hospital, ausência de vítimas, todas sabiam exatamente o que fazer em situações como esta. A única questão que ainda paira em minha mente é o que fazer com os dois filmes que havia alugado na semana passada naquela locadora. Quanto a situação no Brasil...posso jurar que vai dar um longuíssima metragem.

Foto by Marcus Resende Posted by Picasa

17 de mai. de 2006

Insegurança Alimentar...é Grave?

400 Hungry People, by JAO


Esta semana estive apresentando o Brasil para meus pequenos alunos. De vez em quando sou chamada pela universidade e escolas para falar da nossa cultura, música, comida, das nossas cores... mas só do verde, amarelo, azul e branco, não costumo falar da coisa preta, já cantada por Hime e Chico, deixo que a CNN faça isso. Porém há algo pra lá de cinza que sempre menciono pra ver se os americanos aos quais tenho acesso pensam duas vezes antes de jogar tanta comida fora. E isso não pára por aí, todos os dias na escola em que trabalho é o mesmo sermão na hora do lanche, a Ms. Adriana tem que lembrar que há muita fome no mundo, inclusive no Brasil, que por favor eles guardem o resto daquilo que não querem para comer mais tarde, evitando o desperdício. Uma vez, devo ter feito um drama maior que o usual, pois uma aluna do jardim de infância, compadecida, se ofereceu prontamente para ceder o conteúdo de sua lancheira para que eu levasse aos meninos carentes no Brasil. Lá veio ela com uma carinha de piedade , com frutas, biscoitos e uma caixinha de suco na mão, disposta a fazer abstinência naquele dia. Devo ter exagerado, hoje sei que sim. Eu falei em fome, miséria, desgraça, mas descobri que não me expressei direito. Assistindo a Globo internacional dias depois, pude constatar que existem 78 milhões de brasileiros que sofrem falta ou escassez de alimentos e chamaram isso de insegurança alimentar grave (existiria a categoria amena?). Segundo eles, a população com dificuldades de acesso a alimentos, significa 40% do total de habitantes do país. Categorizados desta maneira, não me parece assim tão mal. Pelo que pode-se entender, as pessoas com dificuldades de acesso a alimentos certamente têm algum tipo de problema não identificado que as impedem de alcançar alimentos, por certo disponíveis em algum lugar também não identificado. O problema deixa de ser a impossibilidade de acesso a uma boa escola, a um bom emprego, a uma renda decente e passa a se chamar dificuldade de acesso a alimentos. Culpa da população e seus impedimentos, culpa do alimento, irremediavelmente inacessível. Quero saber onde fica a palavra fome nos relatórios cheios de eufemismos do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome ( seria aqui?), que gaba-se por ter enfim, junto ao IBGE, quantificado a desigualdade no Brasil. Mais uma vez devo estar superestimando os problemas no meu país verde e amarelo. Vou tomar mais cuidado com as palavras na próxima palestra. Só não sei como traduzir para o inglês as expressões criadas pelo governo brasileiro em nosso romântico português. No dicionário pragmático do Tio Sam alguém que é privado de comer tem mesmo é fome.

P.S. Espero que não mudem o nome da campanha "Fome Zero" para "Insegurança Alimentar Zero", acho que Betinho não aprovaria.


Image: JAO aka J. A. O'Baoighill
Minneapolis, Minnesota USA

“400 Hungry People”66"x 66"
Mousepad Stamped on Canvas 12-31-2000

14 de mai. de 2006

Pra Você que não é Mãe...



Já deu pra perceber que hoje não há espaço pra homenagear mais ninguém, só dá mãe do começo ao fim. Triste daquele que faz aniversário no dia de hoje e não é mãe, de quem é digno de qualquer apreciação, fez uma boa ação, doou dinheiro, teminou de escrever um livro, encontrou a cura do câncer...se não for mãe antes de tudo, a festa e o reconhecimento ficará pra amanhã. Hoje é dia de sair para comer fora, ouvir que é alguém muito importante, ganhar beijos estalados, abraços a cada cinco minutos e, melhor, nada de trabalho doméstico. Melhor aproveitar. Amanhã tudo volta ao normal, as mães todas retornam a sua tarefa principal que é salvar a humanidade, começando por seu universo particular. Saem as roupas cheias de graça do almoço de domingo, os cabelos alinhados, as unhas feitas, os cartões cheios de palavras doces, os presentes, as flores. Entram o turbilhão de tarefas para resolver, todas de uma vez, e a certeza de que pode dar conta de cada uma delas com esmero; retorna a luta pra pensar um pouco mais em si mesma ao invés de passar o tempo todo dedicada aos outros, a promessa de que fará yoga, natação, que começará a caminhar no final da tarde, que se matriculará em um curso, saíra pra jantar, irá ao cinema sozinha; volta a mesma ladainha que tudo o que faz é para o bem dos filhos, o que eu posso jurar que é mesmo verdade, as promessas de que não vai chorar, seja de emoção ou saudade (tudo mentira!), o sussurro baixinho “não tenha medo, eu estou aqui”, mesmo quando não sabe ao certo o que fazer. Volta tudo, com a mesma intensidade. Porque mãe é do jeitinho que dizem, são todas iguais, só mudam de endereço e , eu diria, de país. Não pensem que as mães americanas abrem a porta de casa para os filhos saírem aos 18 anos, como reza a lenda, a maioria deles sai mesmo pela janela, muitas vezes empurrados pelo pai. Elas também vão as festinhas da escola e derramam muitas lágrimas, dão beslicões discretos no amiguinho do filho que o empurrou no recreio, chamam o seu adolescente pelo apelido na frente dos colegas, pensa que o filhote não sobreviverá sem os hot dogs que só ela sabe preparar. Igualzinho as mães do Brasil...Japão, Inglaterra.
E pra você que não é mãe, mas é boadrasta, madrinha, tia coruja, pai presente, tutora, professora, avó de plantão, receba também a homenagem. Caso contrário, volta amanhã.
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YARDSALE- Vide Bula-

YARDSALE

I) IDENTIFICAÇÃO DO MEDICAMENTO


APRESENTAÇÕES COMERCIALIZADAS:

Fenômeno amplamente difundido na América que consiste na exposição e venda de produtos, usados ou não, disponibilizados informalmente em jardins e, algumas vezes, em garagens, neste caso chamados de garage sale.


COMPOSIÇÃO:

Cada YARDSALE contém inúmeros itens, alguns de gosto duvidoso, porém todos igualmente passíveis de serem adquiridos por alguns poucos tostões , afinal a tônica “gosto não se discute” impera absoluta sobre o fenômeno.

II) INFORMAÇÕES AO PACIENTE

1.COMO ESTE MEDICAMENTO FUNCIONA?

O uso contínuo de YARDSALE reduz altos níveis de ansiedade, chamada stress (principalmente devido a dinheiro curto ou impossibilidade de adquirir um bem desejado em lojas do ramo). Esta redução é geralmente obtida imediatamente e com a continuidade do tratamento é mantida por tempo indeterminado.

2. POR QUE ESTE MEDICAMENTO FOI INDICADO?

YARDSALE está indicado para reduzir a frustração e a ansiedade quando sua conta bancária não permite que você se delicie nas lojas dos shopping centers. Se os altos níveis de ansiedade não são tratados, podem ocorrer tentativas desesperados do uso indevido do cartão de crédito e/ou do cheque especial. Este fato é uma das causas mais comuns de depressão, divórcio ou entradas no SPC.

3. CONTRA-INDICAÇÕES:

YARDSALE é contra-indicado a pacientes com hipersensibilidade a roupas e objetos usados. Também é contra-indicado a pacientes com frescura crônica ou aguda.

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: O uso de YARDSALE NÃO é contra-indicado durante a gravidez e a lactação e às mulheres com potencial de engravidar que não estão usando métodos contraceptivos apropriados. Ao contrário, por certo serão encontrados itens muito úteis para o enxoval dos recém- nascidos, assim como para o vestuário da futura mamãe.

4. MODO DE USAR E CUIDADOS DE CONSERVAÇÃO DEPOIS DE ABERTO:

Modo de usar
YARDSALE deve ser usado logo depois de aberto para que não se percam as ofertas mais tentadoras. O segredo é ficar à espreita, antes da hora marcada para o início do evento, e administrá-lo prontamente.


5. POSOLOGIA:

A faixa de dose é de 4 YARDSALES por dia, nos finais de semana. A dose máxima diária é de 6 doses. A dose de YARDSALE deve ser individualizada de acordo com a meta da terapia e a resposta do paciente. A maioria dos pacientes é controlada na dose inicial, mas tende a perder o controle facilmente. Pode-se chegar em casa com mais bagulhos do que se previa, o que obrigará o paciente a organizar o seu próprio YARDSALE em poucas semanas.
YARDSALE pode ser administrado em horário comercial, com ou sem alimento. Porém e recomendável que se esteja bem alimentado para suportar o rojão.

Crianças: Não foi estabelecida a segurança e eficácia em crianças, mas sabe-se que a maioria parece responder bem ao tratamento quando têm pais que estão sob a mesma terapêutica.

Idosos: Utiliza-se a faixa de doses habitual.

Raça: Tem sido observada uma concentração de ansiedade aumentada em latinos. Este grupo parece se envolver mais fortemente com a terapeutica. O balanceamento da dose deve ser levado em consideração no tratamento de pacientes latinos que moram na América, cujas contas bancárias não são adequadamente controladas.

Terapia concomitante: YARDSALE mostrou apresentar eficácia adicional quando usado em associação com GARAGE SALE e lojas de usados. YARDSALE também pode ser usado em associação com bazares e flea markets.

Efeito sobre a capacidade de dirigir veículos: Baseado em testes farmacológicos, espera-se que YARDSALE afete a capacidade de dirigir veículos, devido ao alto grau de distração na busca dos fenômenos distribuidos na cidade. Muitas vezes, YARDSALES não são facilmente localizados, o que exige viradas bruscas em ruas estreitas quando se vê sinais de sua existência. Deve-se redobrar a atenção no trânsito quando da administração do medicamento.

6. SUPERDOSE:

Não há um tratamento específico para a superdosagem. Pode-se indicar ao paciente a organização de um YARDSALE em seu próprio jardim para eliminar o excesso do produto ou ainda sugere-se uma doação a lojas de usados que arrecadam dinheiro para os desvalidos, como por exemplo o Exército da Salvação ou Good Will.

ATENÇÃO: este não é um medicamento novo mas, embora as pesquisas tenham indicado eficácia e segurança aceitáveis para uso, efeitos indesejáveis e não conhecidos podem ocorrer. Todavia, quase sempre, descobre-se pequenos tesouros. Entenda-se por tesouros, aquilo que alguém não quer mais de jeito nenhum e para você nunca pareceu tão útil, charmoso ou até mesmo reconhecidamente desnecessário, porém, absolutamente irresistível. Esta é a magia dos yardsales, ambas as partes,vendedores e compradores, têm a sensação de que estão fazendo um ótimo negócio. É bom que se saiba que há 100% de chance de YARDSALE causar dependência.

7 de mai. de 2006

O Joelho é o Limite




Ultimamente nessa casa não se faz outra coisa a não ser festa. É bom saber que ainda não é tudo, daqui até o fim do mês ainda temos mais duas boas razões para comemorarmos. Pois bem, mas ontem foi a vez do Marcus, mais uma graduação , a primeira na América, e também da Tici. Tudo igualzinho ao que vimos nos filmes, o mesmo ritual e até o cenário parece o mesmo. Os eventos americanos seguem quase sempre a mesma formatação, não há lugar para surpresas na programação. Como a cerimônia foi ao ar livre e a possibilidade de uma chuva já tinha sido cogitada, um plano B foi divulgado na rádio e jornal locais. Mas nem tudo é previsível por aqui, mesmo em eventos tradicionais como uma festa de graduação. Primeiro é bom explicar que os formandos não têm opção alguma de alugar as vestimentas, que estarão estreando no evento, em lojas especializadas, como no Brasil, para não dar margem a possíveis diversificações no modelito. Não podem sequer pegar emprestado a beca do irmão que teria se formado antes. Uma taxa é incluída em sua conta na tesouraria da universidade e tudo o que você tem a fazer é pegar um pacote com tudo prontinho dentro. Mesma cor, mesmo tecido, mesmo modelo, mesmo número de pregas. Só se tem direito de escolher o tamanho e os sapatos. Aí entra a melhor parte. Aproveitando essa concessão à liberdade, os alunos arrasam no quesito originalidade e, alguns, capricham na irreverência. No meio daquele monte de pessoas, todas aparentemente tão iguais, descobre-se que há vida criativa um pouco abaixo do joelho.



4 de mai. de 2006

Ela viu um Passáro Azul!



Ela viu um pássaro azul, aquele que eu vinha procurando há dias. Mais que isso, ela roubou do pássaro um instante e mandou pra mim. Ah, os amigos...são ombros disponíveis, mãos estendidas, ouvidos atentos e são olhos também. Agora já posso dizer que vi um pássaro azul. Espera até que eu conte tudo o que ele me disse.

Foto by Lília Lima
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