11 de mar. de 2006

As Flores de Plastico nao Morrem

  Flores me encantam, mas definitivamente nao tenho o dedo verde. A ultima tentativa que fiz de cuidar de um vasinho especialmente cedido por meu vizinho acaba de se transformar em desastre. Melhor eu dar detalhes. Meu vizinho e um senhor de seus quase oitenta anos e muitas vezes me lembra meu pai distante, exceto pela paixao pelas plantas, que pelo que me consta meu genitor tambem nunca nutriu. Pois bem, acho ate que o tal vizinho fica um tanto deprimido no inverno, pois estar no jardim a conversar com as suas flores faz brotar uma luz em seu sorriso. Desde que aqui cheguei ele tenta me convencer a gastar algumas horas na semana na lida com a terra, as sementes, as ferramentas de trabalho, e me explica tudo sobre cada flor como quem fala de um filho. Tudo em vao. Meu jardim continua mais parecido com um deserto e sinto muito que esta seja justamente a visao que ele tem quando olha pela vidraca da sala de estar. No ano passado entao, me deu um vaso com uma planta que, segundo ele, vinha de uma matriz cultivada por sua mae. Se eu ja dei uma ideia da idade do vizinho, voce pode calcular que a plantinha trazia memorias longinquas. Ele foi delicado quando disse que devido a minha inexperiencia com plantas me daria uma que nao precisaria mais que agua e sombra. Durante alguns meses ate achei que tudo tinha mudado e que agora sabia cuidar das plantas tanto quanto das pessoas. O vaso ficou lindo e todos elogiavam, surgiram brotos, ficou enorme. Agora no inverno fez um dia de sol e achei que a tal plantinha, assim como o vizinho, precisaria ir la pra fora para ganhar mais vida. E assim o fiz. A deixei em uma sombra, mas sujeita ao calor inesperado daquele dia. Calor que nao durou mais do que algumas horas, quando a neve veio e cobriu tudo de branco, inclusive o vaso de plantas. Nao pense que e tudo. So reparei o erro dias depois, quando quase nada havia para ser feito. Restou um unico exemplar da especie, bem no centro do vaso, que resiste bravamente, nao sei ate quando. E agora gasto horas a pensar onde esconderei o vaso ou o que direi quando os meus vizinhos me fizerem uma visita. Sem falar que tenho me esforcado e ate implorado ao que restou da planta, em longas conversas diarias, para que sobreviva ao periodo glacial a que foi exposto. Fiz promessas, disse que seria melhor daqui para frente, mas nao creio. Definitivamente, gosto de gente.

Salvador Dali, Vaso de Flores, aquarela. Posted by Picasa

Nenhum comentário: