28 de mai. de 2012

O Que Voce Anda Fazendo?



A pergunta sobre a tela do computador em um despretensioso bate papo virtual parecia corriqueira. Não creio que a amiga distante quisesse saber o que eu era capaz de fazer enquanto andava por aí, mas foi bem assim que a imagem me veio à cabeça: a malabarista do dia-a-dia, cumprindo com tarefas de toda ordem enquanto caminhava, meio trôpega, tentando manter as duzentas bolas de tamanhos diversos no ar e seguindo a marcha da rotina, em meio às vinte e quatro horas oferecidas gentilmente pelo senhor do tempo aos homens de boa vontade e contas a pagar.

Ultimamente estava mesmo andando a fazer muitas coisas ao mesmo tempo e, pior, sem terminar quase nada do que me propunha a cumprir. Muitas vezes levantava para fazer algo e no caminho me distraia com tantas outras tarefas, até voltar para o local de partida e constatar que não havia feito o que primeiro me veio à cabeça. Tudo culpa dos hormônios, eu diria, estes batendo em retirada sem a menor cerimônia, causando uma bagunça terrível no estar intimo de minha casa interior. Mas esta desculpa estava ficando cada vez mais esfarrapada, afinal eu bem sabia que daqui para frente, apesar da bem intencionada ajuda da medicina, eu que cuidasse de dar um jeito de continuar caminhando sem me esborrachar ladeira abaixo antes da hora.

Então expliquei à velha amiga, que me compreendia muito bem, que andava fazendo planos. Literalmente. Por onde andava, fazia planos. Dentro de casa, no caminho para o trabalho enquanto dirigia, sendo transportada por um trem, na frente do computador, ao falar ao telefone, quanto me equilibrava em um monociclo sobre um barbante e exibia ao mundo minha destreza com jogos malabares, entre uma distração e outra... quando dormia e sonhava.
Sim, eu andava sonhando e fazendo planos.  Pelo menos isso os tais hormônios não levaram consigo quando fugiram e bateram a porta dos fundos sem deixar um recadinho sequer. Por outro lado, acabaram levando por engano a minha habilidade para realizar os sonhos que sonhava. Fica aqui, portanto, um apelo aos que conviveram de perto com esta malabarista que vos fala. Caso encontrem por ai aquela cartola mágica que atende pelo nome de esperança, segura firme e me liga que eu passo ai pra pegá-la.
E você, o que anda fazendo?

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Sobre a ilustradora do post, encontrada por acaso e com muita alegria nas teias virtuais:
Picture by Sandi FitzGerald
Toronto, Ontario,
Canada

O blog dela: kittyjujube.blogspot.com


11 de mai. de 2012

Um Beijo e um Abraço


Já faz muito tempo, mas me lembro que costumava ficar irritada quando, com certa antecedência, minha mãe anunciava que já tinha providenciado o presente que nos daria em uma data comemorativa vindoura qualquer: “Um beijo e um abraço”. Se estivesse naqueles dias, repetia com uma ponta de provocação “Um beijo e um abraço e... olhe lá!”. Claro que era tudo lorota; certamente uma maneira de nos manter esvaziados de expectativas. Mais que isso, era um jeito de pedir carinho que só vim a entender muito depois, mais precisamente nos últimos meses.

O tempo passou e aqui estou eu a pensar em como responder sem dar um ar de falsa modéstia à previsível pergunta às vésperas de mais um dia das mães: “O que você quer de presente?”. A resposta está na ponta da língua: “Um beijo e um abraço!” E que esta sirva para todas as demais datas: aniversário, incluindo o de casamento; Natal; dia do amigo, dos namorados... já antecipando até o dia da avó, se este for o caso no futuro.

Envolvida em  mais uma adaptação em terras estrangeiras, em meio a novos amigos em fase de reconhecimento; à filha adolescente que não sai por aí distribuindo afeto à toa; ao filho, irmã e sobrinha que moram algumas muitas horas de distância daqui; aos enteados que estão do outro lado do oceano; aos irmãos, familiares e amigos de uma vida toda a quem posso ver e ouvir graças às benesses das novas tecnologias, mas cujo cheiro e calor me fazem uma falta enorme, confesso que um beijo e um abraço tá mais pra gênero de primeira necessidade do que pra capricho.


Nem pense que estou me fazendo de boazinha. A verdade é que não me consta que quem faz a pergunta esteja esperando uma resposta do tipo “Quero uma viagem à Itália com tudo pago, com direito a uma paradinha em Paris antes de pegar o voo em Londres de volta para casa” ou quem sabe ainda “Quatro ou cinco noites que sejam em alguma ilha paradisíaca qualquer, sem a possibilidade de acessar o celular e nem precisar lavar louça ou fazer a cama “... Melhor do que isso, eu diria sem titubear, só um beijo e um abraço demorado de quem a gente quer bem!