20 de nov. de 2007

Le Penseur


Abri o email, enviado por minha irmã, intitulado "Foto do Gutto", com uma certa curiosidade, afinal, até onde sabia, o sobrinho neto ainda estava a caminho, com chegada prevista para 2008. Mas o advento da tecnologia é mesmo surpreendente, lá estava o retrato do bebê em 3D, gerado em uma ultra-sonografia, que produz dezesseis quadros de imagem por segundo. A partir deste recurso, é possível observar detalhes da anatomia e das funções vitais do bebê, em tempo real, mostrando também o nariz da mãe, a boca do pai (ou seria o contrário?) e tudo mais que somos levados a considerar numa crise justificável de corugisse aguda.

Mas tem algo mais que a tia quase avó não pôde deixar de reparar: o ar de preocupação do pequeno pensador (já com as contas a pagar ?) e o jeitinho de dar adeus com a mão fechada...ah,trata-se, com certeza,de herança paterna, traços peculiares que nem o mestre Rodin haveria de captar!

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17 de nov. de 2007

VoCê





"E as coisas lindas são mais lindas
Quando você está,
Hoje você está,
Onde você está,
As coisas são mais lindas
Porque você está,
Onde você está,
Hoje você está,
Nas coisas tão mais lindas"


Nando Reis
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15 de nov. de 2007

14 de nov. de 2007

Os Pósteros


"Eles vão nos achar ridículos, os pósteros.
Nos examinarão com extrema
curiosidade e um tardio afeto.
Mas vão nos achar ridículos, os pósteros.
Olhado de lá tudo aqui será mais claro para eles que nos verão
inteiramente diversos do que somos, bem mais exóticos do que somos.

- Como esses primitivos ousavam se chamar modernos?


Farão simpósios, debaterão e chegarão a bizzaras conclusões.
Assim entraremos para a história deles como outros para a nossa
entraram: não como o que somos mas como reflexo de uma reflexão".

Affonso Romano de Sant'Anna

Photo: Marcus Resende

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13 de nov. de 2007

Os Salazar


Eles parecem saídos de uma dessas revistas de celebridades. São lindos, elegantes, interessantes e têm um sorriso que abre todas as portas...e janelas. Além disso, os irmãos Salazar são donos de uma gentileza ímpar, mérito da genética, porque os personagens que habitam seu universo familiar são igualmente amáveis no trato com as pessoas.


Diego, Pedro, Guilherme e Luca, vieram ao mundo quase todos na mesma década e, a tirar pelos três primeiros, tinham pressa de se encontrar. Os traços físicos, tão diversos e únicos, trazem uma certa marca que os identifica, talvez seja a maneira de pousar os olhos curiosos sobre o novo ou de ouvir com interesse as histórias das pessoas, sem falar nas expressões que usam para tecer elogios, que o fazem sem nem perceber.


Também não nos surpreenderia se dissessem que os Salazar saíram de um livro de aventuras, daqueles clássicos, cheios de emoção, passados em um país distante, tendo em vista o já conhecido amor dos mesmos por outras terras.


Para resumir, são os genros que toda mãe pediu a Deus, inclusive eu, e , coloridos, na vida real, acredite, são ainda mais cheios de charme.

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11 de nov. de 2007

1+1+1+3+4+4+5=19












Já virou piada, estou sempre esquecendo alguma coisa, principalmente onde coloquei a chave do carro, esta é clássica, a bolsa, o celular, o controle da televisão...
Não passo um dia sem mobilizar todo mundo em função de uma busca qualquer.
Quando estamos em cima da hora pra sair é aquele corre-corre, cada um vai
para um lado reclamando que eu nunca ponho as coisas no mesmo lugar, que eu tenho que ser mais sistemática...a ladainha usual . Por minha vez, eu rio de mim mesma, o que parece ser pior, e resmungo que quando me conheceram eu já era assim, que tenho mil coisas para resolver ao mesmo tempo e não dá para arcar com tudo sem os pequenos deslizes desta ordem e, ainda, provoco dizendo que se este for meu maior defeito não devo ser tão mal assim. Além do mais, sou sempre atenta às datas comemorativas e lembro com detalhes de eventos do passado, letras de música e as chamadas inutilidades que eu adoro. Então, secretamente, prometo a mim mesma que quando voltar para casa da próxima vez, irei pendurar a chave nos ganchinhos em frente da porta que servem especialmente para este fim. Não adianta, é tudo em vão, eu sempre volto com pacotes na mão e corro para a cozinha, ou ainda trago as cartas que pego no mailbox e me dirijo ao gabinete para deixá-las sobre a escrivaninha. Resultado: acabo levando junto a chave, a bolsa, o celular e deixo tudo no caminho. O último esquecimento foi recente, mas devidamente contornado. Me preparei para receber Filipe com um jantar especial em seu aniversário, sexta passada, e preparei tudo que ele mais gosta de comer. Claro que não esqueci dos Brigadeiros e amigos chegados prometeram que trariam o bolo. Porém, na minha listinha, que nunca está completa, não incluí as velinhas. Na hora de cantar parabéns perceberam a falta das mesmas e antes que começassem a falar de minha desatenção, não tive dúvidas, fui ao ármario onde guardo as velas já sopradas em aniversários anteriores e, na falta de um 9 para completar o número desejado, o jeito foi contar com o estoque inteiro sobre o bolo. Pode falar quem quiser, é só conferir, todas elas juntas dão 19 na cabeça, ou melhor, no bolo!

8 de nov. de 2007

Enfim, as flores



Finalmente meu vizinho pode abrir as cortinas e se deparar com um jardim decente. Desta vez não me refiro às flores que ele próprio cultiva com primor, motivo daquela inveja santa já comentada anteriormente, mas às novas formas e cores que habitam o espaço em frente à minha casa . Depois de seis anos ouvindo as lições de botânica do caro senhor, resolvemos fazer algo nesse sentido; já não era sem tempo. Eu falo na primeira pessoa do plural porque considero que força moral também conta, uma vez que colocar a mão na massa mesmo que é bom, ou melhor, na terra, não o fiz. Sou tão consciente de minha inabilidade com a as plantas, que até quando, vez por outra, sou intimada a aguá-las (sim, eu não faria isso voluntariamente), rezo baixinho para que não murchem. Meu engenhoso esposo, portanto, se encarregou de tomar para si a tarefa de cuidar das plantinhas, já que, das pessoas, cuido eu. Estas sim, senhoras de todo o meu apreço. Além do mais, não tenho que ficar ficar seis longos meses de inverno sem dedicar-me ao cultivo da amizade; pessoas estão sempre presentes, em qualquer estação.

Photo: Marcus Resende

7 de nov. de 2007

Happy B-Day...again!


Juro que não foi de propósito, mas me senti a própria aniversariante, com direito às regalias e mimos habituais, dessa vez em novembro, quase dois meses depois de meu tumultuado e genuíno aniversário deste ano. Claro que achei merecidos os votos de felicidade que recebi dos amigos desavisados hoje pela manhã, afinal o ano de 2007 não tem sido lá so easy; quanto mais energia positiva melhor. Mas, fazer o quê? Depois de um tempo dedicada à tarefa de cuidar de minha mãe, que levou um tombo e quebrou a bacia bem no dia desta data querida, em setembro, resolvi rebobinar meu filme e começar de novo. Decidi que, embora tardiamente, deveria postar na minha página virtual as fotos da festa que foram tiradas antes do incidente que mudou minha rotina de ponta cabeça e então dar um salto sobre os dias de lamúria, hospital e cansaço. E assim o fiz. Embora com isso tenha confundido alguns colegas, atormentados pela constante falta de tempo e então confusos quanto as datas natalícias e coisas do tipo, parece que deu certo, voltei no tempo. Depois dos cumprimentos, das mensagens carinhosas e das observações gentilíssimas acerca de meus 44 anos de vida, tudo em dose dupla, só tenho uma ressalva a fazer: acrescentar mais uma velinha no bolo, só no ano que vem!
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6 de nov. de 2007

Oração


Rogo aos deuses da inércia, com diligência, para que me mantenham em sono profundo, enquanto os fantasmas, mesmo os camaradas, com sorriso no rosto, do tipo inflável, galhofam da minha fantasia.

Amém.

Photo by Pepa Artal

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1 de nov. de 2007

EmBoTaDoS

Há algo de mágico em maravilhar-se com as coisas simples, prováveis,
recorrentes.
Pena que meus olhos de criança estejam repletos de
adultice e se desdobrem, exaustos, na busca do jamais visto.

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31 de out. de 2007

Do Rebouças


Dizem que ela fatalmente aparece, mas desde que os deslizamentos começaram, a tal luz no fim do túnel não deu ainda sinal de vida. Na pressa, eu não trouxe lanterna, vela, isqueiro nem bússola... Deixei em casa o GPS e em algum outro lugar um monte de coragem que costumava usar em momentos como esse. Óbvio que o celular ficou na outra bolsa, como sempre. Não sei quanto tempo ainda tenho a tatear os muros convexos dessa escuridão, mas quem se importa com o relógio em uma horas dessas?

Decidi, portanto, que estaria interditada até que a chuva desse uma trégua e, pelo barulho, parece que não é pra hoje. Então não tenho mais pressa, já aprendi que, quando não se sabe para onde ir, o segredo é andar pra frente até, com esperança, se deparar com algo que, se não for a luz desejada, quem sabe é uma daquelas pedrinhas que, num tropeço, acaba nos lançando alguns metros pra frente.

Arrisco dizer que tenho gostado de brincar de não ter medo do escuro, meus monstrinhos de estimação até parecem mais mansos quando não posso vê-los. Claro que eles vieram todos, como não? Continuo a colecioná-los e a guardá-los nas estantes do meu lado B, de boba.

Já disse que ninguém precisa vir me resgatar, mas se insistirem, observem a placa na entrada, solicitando faróis baixos, que é pra não estragar minha nova mania de pensar no escuro.
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30 de out. de 2007

O Rosa


"O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."

Guimarães Rosa

Picture by Marcus Resende

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21 de ago. de 2007

Comigo



Dessa vez, não nos afogamos em lágrimas na hora da partida.
Sequer antecipamos a dor de nos perdemos um do outro mais uma vez, chorando baixinho sobre o travesseiro.
Não fui até seu quarto escondida para velar seu sono e sussurrar que lhe amava.
Nem precisei fugir do seu verde olhar para que você não visse o vazio da saudade inundado de castanho.

Olhei pra trás antes de bater a porta e sabia que não encontraria você.
Mesmo assim, olhei.

Só pra ter certeza que, a partir de então, você viria comigo.
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30 de mar. de 2007

Novo Olhar


Sorri a menina, olhos verdes, que vê o mundo com esperança, embora nem faça idéia ainda de onde pode chegar.
Sorrimos nós também, olhos negros , que já não vêem tão longe, mas sabem que seus olhos verdes têm muito, muito mesmo, a lhe mostrar.

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10 de mar. de 2007

Vou te Contar...


Ando chorando à toa, no estilo kit completo, com nó na garganta, lágrimas e tudo. Se passar propaganda de campanha humanitária na TV é tiro certo, assim como filmes em que os desvalidos atropelam todos os obstáculos e ascendem socialmente ; adoro ficção. Fotos e emails, cartas e telefonemas também rendem bons soluços, mas nada é mais contundente que ouvir música brasileira. Ontem dirigi uma hora e meia até uma cidade vizinha e levei Adriana Calcanhotto, Marisa Monte, Gal Costa comigo; cantamos durante todo o trajeto e, claro, os olhos chegaram a marejar algumas vezes.
Há duas semanas tive o prazer de assistir a um espetáculo de jazz em uma universidade próxima onde músicos brasileiros apresentaram a bossa, que permanece nova, aos gringos da região. Tudo regado a feijoada, arroz, pudim de leite condensado e cafezinho, uma delícia. Não faltou a Garota de Ipanema cantada por uma americana, e foi aí que eu chorei. Eu que cresci cantarolando música americana, mesmo quando não entendia nada do que era dito, me sensibilizei ao caminhar na contramão, ouvindo a voz suave da garota, que nunca foi a Ipanema, cantando com maestria a melodia tão familiar. Sem falar que dois dos músicos, fabulosos, há bem pouco tempo atrás, corriam no pátio do Colégio Batista e me chamavam de tia. Felizmente aprendi a usar o rímel à prova d'água.

Picture by Ana Augusta
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3 de mar. de 2007

Desejo


Há muito da menina em seu sorriso, ainda, mas seus olhos já insinuam algo de mulher. Que essa porção que está por vir, tão bem-vinda, a leve aonde você bem quiser.

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Despedida


Naquela tarde, quando o céu cedeu espaço ao laranja e ao amarelo e deixou que colorissem o horizonte, achei que era um convite; é claro que àquela época não acreditava ainda em adeus.

Quixaba, Fortaleza, Brasil

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2 de mar. de 2007

Sem Palavras


Para os dias em que as palavras não dizem nada, inventaram as cores.
Para que estas se fizessem entender, criaram a sombra.
De forma a serem interpretadas, as lançaram contra a luz.
A fim de que se diferenciassem, trouxeram as nuances e, enfim, para que não digam tudo, foram submetidas à forma.
Benditos sejam os deuses e essa mania de criar códigos.
Photos by Michael B. Posted by Picasa

12 de fev. de 2007

Reflexos soxelfeR

Tinha certeza que acabaria comprando um problema, mas não resisti quando vi no supermercado, perto do caixa, um espelho que aumenta a imagem 10 vezes. Sem pensar se seria vista, chequei o produto ali mesmo e me deparei com uma imagem assustadora e, sem dúvida, maximizada de minha inabilidade nos cuidados com a pele, a sobrancelha por fazer, a tal da meia idade chegando, para não dizer galopando ou, pior, voando. Então não hesitei, joguei o espelho no carrinho e imaginei que, ao chegar em casa, acertaria minhas contas com o tempo.
Trancada no banheiro, longe do julgo popular e perto, tão perto, de tamanhas imperfeições dantes nunca vistas, fiquei a ouvir aquela voz interna que me perguntava que tipo de ser humano desprovido de lentes tão poderosas quanto o tal espelho então adquirido poderia notar qualquer uma das manchas senis, enormes, os poros abertos, profundos, os pelos grossos, insinuantes... além disso, eu havia convivido com tudo isso por tanto tempo, sem sequer perceber que existiam. Mas eles estavam lá, era evidente; inquestionável, dizia o reflexo.

O espelho não era grande, ao contrário, era pequeno, redondo e cabia na palma da mão, mas parecia ser enorme, daqueles que mostram o corpo inteiro. Caberia também em qualquer uma de minhas bolsas, mas eu jurei que o deixaria para sempre dentro de um armário e firmaríamos então um pacto, um segredo daqueles mantidos a ferro e a fogo. Não sei se ele concordou ou fingiu que sim, só pra fazer cessar tamanha confusão e o barulho que minha vaidade fazia enquanto discutia com a imagem aumentada.

Desde então, o espelho fica quase sempre entre quatro paredes, o que me parece um tanto injusto, já que as lentes de aumento com que analiso minhas incertezas e encaro meus medos não são menos potentes ou cruéis. Além disso, vivem espalhadas pela casa, vão comigo ao trabalho, dormem em minha cama e têm tratado meu ego com uma indelicadeza ímpar.

Pablo Picasso (Spanish, 1882-1973), Girl Before a Mirror, 1932, oil on canvas, 64 x 51 1/4 inches, Museum of Modern Art, NY.

31 de jan. de 2007

Cartas Sobre o Atlântico




Quando encontro em meu mailbox um envelope cuidadosamente manuscrito que ela às vezes envia pelo correio, por um milésimo de segundo chego a pensar que estou a receber notícias de mim mesma, tamanha a semelhança de nossas letras cursivas, redondinhas, caracterizadas por um traço que se eleva ao final de cada palavra. Então acho graça e corro pra casa, ansiosa pelo conteúdo, pois as afinidades com a amiga Hilra, hoje distante, definitivamente não se esgotam naquilo que se pode ver.

Ela não mora em Londres, eu não moro em Nova York, no momento interioranas, guardamos algo de urbano, de cliché, que então chamamos de saudade. Ambas estamos a milhas do movimento de uma grande metrópole que nos embalou os sonhos por anos e anos. Aflitas, nos correspondemos por vias diversas, menos do que desejávamos, para que tenhamos certeza de que não nos perderemos jamais. Quando ela escreve posso ouvir a sua voz e ver o jeito como conserta os óculos sobre o nariz enquanto fala. Às vezes ela me obriga a pensar que é festa e me convida para dançar sobre nossas incertezas, outras vezes, mesmo chovendo, abro uma janela e deixo entrar luz sobre nossas dúvidas. Nos revezamos bem nos papéis de Mafalda e Pollyana; anti-heroínas, não temos idéia do que somos capazes, o que nos garante um certo charme.
Ela repousa nos braços da Rainha, eu do Tio Sam. Nada confortáveis, planejamos um encontro, onde finalmente misturaremos chá com Coca Cola e faremos uma grande festa.

21 de jan. de 2007

Inverno, Dois Mundos, Saudade



No inverno, o alarme da saudade costuma soar insistentemente ( no começo me deixava nervosa) mas, na intenção de arcar com todos os afazeres, tenho aprendido a pensar que é música.

Esta casa, que já foi quase das sete mulheres, conta, por ora, com três exemplares da espécie masculina que se esforçam para administrar o movimento sempre rápido das duas únicas fêmeas em relação. Sem falar nas crises de TPM que, felizmente, tendem a acontecer no mesmo período. Fora o risco que correm de serem exterminados em um desses dias, podem contar com a sorte de ficarem a salvo por longas três semanas restantes.

Quando a mais nova das mulheres da casa entrou para o time das que todo mês sangram, lá fui eu corrrendo ao supermercado, driblando milhões de compromissos e cancelando outros, para comprar um bouquet de rosas e um cartão de welcome ao mundo quase adulto ou adeus infância querida. Claro que minha filhota, nada afeita aos enfeites, ficou sem entender porque tamanha manifestação para um ato tao previsível e simples da natureza. Ficou ate meio desconfiada, talvez não fosse mesmo tão simples assim.

Como já se sabe, as mulheres inventam compromissos quando não os têm de fato, pelo simples prazer de estarem em movimento. E quando não estão no tal período, são dinâmicas, alegres, solidárias. Os homens, por sua vez, geralmente se isolam em suas cavernas interiores,não se aprofundam em conversas ditas vazias, focam os sentidos em um só ponto, resquício dos tempos em que saíam em busca da caça. Esqueci de falar que alguns se afundam no sofá ou na cadeira do computador e se tornam muito pesados. De lá acham que vão dominar o mundo. Às vezes dá certo.

Sei que somos culpadas, irremediavelmente culpadas. Vi as meninas que aqui se hospedaram cuidando do Lipe, concedendo a ele muitos privilégios, como por exemplo, levar para seu quarto a roupa limpa e dobrada que se acumulava na mesa da sala e muitas vezes guardando-as no armário. Achavam que não custava nada, que ele estudava e trabalhava muito que...tadinho. Faço o mesmo por Marcus, encontro sempre desculpas cabíveis. Esperávamos os dois chegarem de seus compromissos para jantarmos juntos, mudávamos os horários de algumas atividades para que participassem, dançávamos e cantávamos na frente deles para que sorrissem; uma tentativa clara de seduzi-los ou ainda uma tática sutil de controle absoluto da situação. Quando saíamos todas, eles sempre diziam que o primeiro minuto era de alívio...que silêncio. Mas nao tardavam os telefonemas que começavam e acabam com " e então, quando vocês voltam"?,(eles odeiam mesmo o telefone).

Nada contra o mundo masculino. Acho até que em alguns dias eu me vejo usando as mesmas lentes ( meio embaçadas) para olhar para certos fatos de minha rotina ( estou sendo irônica outra vez). Como a tal sirene da saudade que não pára de soar, meio que afundada em meu sofá interior, finjo nao escutar, prefiro não ver.

1 de jan. de 2007

A Janela Dele



A janela dele parece ser a mesma que a dela, mas de fato não é. O cenário através da vidraça também traz algo de familiar, para ele e para ela, mas eles sequer habitam a mesma cidade. Todavia, é provável que, mesmo sem se saberem, ele e ela, viam o mundo através da mesma janela. Talvez tenham olhado para fora tantas vezes a espera, um do outro, sem imaginar que estavam, de uma forma que a razão não explica, lado a lado, debruçados sobre a mesma janela.

Picture by Michael B.