2 de nov. de 2010

" Fi-lo porque Qui-lo"


Dia de votação na América, o outono dando o ar de sua imensa graça, cidadãos de todas as idades (inclusive senhoras e senhores empurrando andadores e acompanhados de garrafas de oxigênio portáteis) indo em busca de exercer um direito que os assiste. Na terra do Tio Sam o voto não é obrigatório; nada de sansões para quem não comparecer às urnas. Quem votou hoje o fez por livre e espontânea vontade. É bem verdade que muitos americanos haviam feito a sua escolha nas urnas antecipadamente, pois deste lado de cá é possível votar em seus candidatos semanas antes do dia oficial nas cabines dispostas em supermercados, shopping centers, universidades, farmácias, lavanderias...

Portanto, acabei ressuscitando Jânio Quadros e sua famosa frase gramaticalmente incorreta, mas cheia de atitude. Depois de escolher meus candidatos, pude bater no peito e dizer : " Fi-lo porque Qui-lo" e porque continuo acreditando que Obama merece o apoio necessário para mostrar ao que veio, embora, infelizmente, não é o que pensa a oposição republicana, disseminando um discurso cheio de valores (i)morais e religiosos que nada parecem acrescentar ao debate político.
Temo, entre outras coisas, pelos tratados diplomáticos internacionais firmados pelo presidente democrata com poder na política externa, e pela imprescindível reforma do sistema de saúde, mais uma vez ameaçada. Em um país onde só vai à emergência hospitalar o indivíduo que achar que está prestes a morrer, pois, sendo assim, talvez não tenha que arcar com as astronômicas contas médicas, isso é lamentável. Sem falar na perseguição de inspiração facista aos mais de 10 milhões de imigrantes ilegais, estes acusados de roubar empregos dos americanos em uma economia em recessão. Não estou certa de que os americanos estejam realmente interessados no tipo de subemprego oferecido à grande maioria dos que cruzam ilegalmente a fronteira e muito menos que um americano profissionalmente capacitado esteja tendo dificuldades de encontrar emprego porque algum imigrante ilegal esteja ocupando a vaga. Mas é sempre mais fácil desviar a atenção sobre a verdadeira origem dos problemas trazendo à tona assuntos que suscitem polêmicas de ordem emocional. Não é só brasileiro que gosta de novela.


Agora, ao contrário do Brasil, um analfabeto americano dificilmente poderia fazer valer seu direito de escolher seus representantes. Não se trata de discriminação, eu explico. Em meio às dezenas de opções de candidatos para os cargos legislativos locais e estaduais, o que inclui, além dos senadores, representantes do congresso e governadores, também há de se votar em juízes e promotores de quem nunca se ouviu falar. Mas os referendos e seus textos longuíssimos e pouco claros são a grande dor de cabeça que costuma confundir os eleitores. Estes, tratam de temas tão variados quanto a legalização da maconha, a proibição de criadouros de cães, passando pelo aumento de impostos para investimento na segurança pública ou a abolição da reforma da saúde. E não dá pra deixar esta parte da prova em branco, quem quer votar nos candidatos de sua preferência tem que responder também ao plebiscito, sem direito a cola ou coisas do tipo.

Isso me faz pensar que se o voto fosse obrigatório nos Estados Unidos, inclusive para os que só assinam seu nome, como ocorre no Brasil, se fariam necessários cursos de média e longa duração sobre como preencher aquelas enormes cédulas de votação. Se fosse americano, Tiririca, com certeza, não conseguiria votar nem em si próprio. Pelo menos não antes de aprender a segurar uma caneta com firmeza.

2 comentários:

Unknown disse...

So hoje me dei conta que voce voltou a escrever por aqui. Tao bom. Te amo

Márcia Du disse...

Dri,
agora fazendo um pouco de piada das eleições brsileiras veja o que Tirica respondeu ao ser questionado por que não havia se candidatado pelo seu Estado de origem, o Ceará.
- ....É que lá no Ceará num tem abestado não.
E falam as boas linguas que o fato foi vero.