Está bem, você já explicou e eu entendi que parece mais fácil
ficar onde está e com quem está, afinal de contas o cenário é familiar, os
personagens já se conhecem e, na medida do impossível, se suportam, quando não estão
se odiando. Isso vale pra casais, tanto quanto pra relações de trabalho, filhos
adultos, amigos, relacionamentos em geral. Mas não me venha falar de zona de
conforto quando o que você está fazendo é nada menos que destilar por aí o seu
desconforto.
A menos que você seja masoquista e passe a assumir isso publicamente,
ou mesmo para si ou ainda para o sujeito de suas queixas, vamos combinar que “zona
de conforto” não é exatamente o lugar em que você diz se encontrar agora.
Entenda-se por conforto, como bem rezam os dicionários, bem estar, aconchego.
Se não é isso que você sente ao explicar porque não se move rumo ao
desconhecido, vamos considerar que pode estar mesmo acostumado com o
desconforto. E isso acontece com mais frequência do que você e eu pensamos.
Às vezes a gente pode não se dar conta que tem vivido sob o
signo do desconforto há um certo tempo. Muitas vezes acostumados a sermos
destratados, explorados, avacalhados, desprezados, a trabalharmos pra pagar as
contas e nada mais do que isso, a sermos avaliados de forma mesquinha, obrigados
a só dizer sim, a só recebermos amor e atenção em troca de algo, a (nos) perdermos,
a escorregamos nos tapetes indevidamente puxados… que qualquer coisa que sai
desse padrão parece pouco com a aquilo que chamados de zona de conforto.
Não vamos entrar aqui no mérito das possíveis causas para
comportamentos do tipo. Isso a gente deixa pra os psicólogos decidirem, se é que
servirá para algo no futuro. Se você suspeita
que a forma como seus pais o trataram ou deixaram de tratar foi ou é imperdoável,
que aquela professora que fez com que você copiasse a mesma frase 200 vezes o deixou
bloqueado, que seu primeiro chefe, que morria de inveja de você e por isso o
tratava com desdém, o impede de crescer profissionalmente, ou ainda que as
sequelas do último relacionamento amoroso
o tornaram escaldado, passe a duvidar de todas estas premissas. Isso mesmo, duvide.
Bata o pé e diga a si mesmo que nada disso faz sentido. Que você
é capaz de resistir aos desafios naturais, e ainda, segundo Darwin, estará contribuindo
para que sua nova atitude seja herdada pelos seus sucessores, sem falar em seus
contemporâneos, que terão mais condições de sobreviver às intempéries da vida
do que os que se sentem confortáveis frente ao desconforto. Portando, caso não consiga se mover em nome
de si mesmo ou si mesma, faça-o em nome da evolução da espécie. No final, todo
mundo sairá ganhando. Até você.