30 de ago. de 2008

Neologizando



Somos enrugáveis. Apesar dos cremes rejuvenescedores, do raio laser, do botox, da clínicas reparadoras, das vitaminas, das medidas preventivas, da medicina ortomolecular.

Somos irremediavelmente envelhecíveis. Apesar da ciência, dos produtos orgânicos, da lipoaspiração, do dinheiro, das esteiras ergométricas, da fama, da yoga, pilates e exercícios de meditação.

Encolhíveis, mancháveis, desidratáveis, debilitáveis, enfraquecíveis, morríveis, enterráveis.
E tão somente por isso, absolutamente memoráveis.
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17 de ago. de 2008

E por falar em saudade...


Parei de brigar com a saudade quando era ainda uma garota. Cheguei a pensar que depois disso seríamos amigas e viveríamos felizes para sempre, mas isso aconteceu na mesma época em que deixei de acreditar em contos de fadas e então não houve mais jeito. Fizemos portanto um pacto. Viveríamos uma relação de fachada e nos suportaríamos mutuamente em nome da moral e dos bons costumes, como se passa com qualquer príncipe e princesa depois da última página do livro. E, como não poderia deixar de ser, comecei a inventar uma porção de desculpas esfarrapadas para justificar a permanência dela em minha vida. Feliz daquele que sente saudade, pensava eu com uma certa desconfiança, sinal de que se viveu algo significativo que nos mobilzou e agora nos faz falta. Mas esta é apenas a mais clássica. Há uma série de frases feitas que, confesso, acabam ajudando a retomar o rítmo da vida quando a saudade nos coloca em um estado letárgico e nos faz acreditar que nunca mais seremos os mesmos. Mas aí eu tenho até que concordar com ela. Ninguém sai impune depois de lidar com o vazio, mesmo sabendo que se manifesta de maneiras diferentes. Há aqueles vazios temporários, que a gente sabe ou acredita que voltará a ser preenchido mais cedo ou mais tarde e há aqueles que são do tipo mais profundo, onde se está certo de que nada pode preenchê-lo, pelo menos não com o que conhecemos a princípio. Mas seja qual for o tipo de saudade que se venha a sentir, daquelas que passam rapidinho, as que duram para sempre ou, ainda, aquelas do pior tipo, quando a gente nem viveu ainda a perda, mas já antecipa a dor, cabe a você decidir como vai reagir ao tal sentimento que faz doer mais do que qualquer outro. Se a gente ocupar o vazio com os próprios sonhos, vai descobrir que, apesar das lembranças do que se viveu e da dor por isso não estar mais acessível, o melhor é parar de olhar pra dentro, pra profundidade do vazio, e buscar onde fica a montanha que se formou com o que foi retirado do buraco que surgiu na alma. Lá do topo, o mundo vai parecer muito mais fascinante. Posted by Picasa