22 de out. de 2010

Arteira




Marido viajando por três semanas. Casa super silenciosa com uma filha na escola e a outra no Brasil, mãe entretida em seus quebra-cabeças. Almoço estrategicamente pronto, desde ontem. Um ar de satisfação ronda o ambiente. É verdade que não está necessariamente nos planos sair por aí a procura de uma balada; a casa nunca me pareceu palco pra tantas aventuras. A vontade de transgredir passa pela ousadia de gostar de estar sozinha e poder tomar decisões sem ter que esperar pelos outros.

Comecei meus 21 dias de solidão atirando tintas sobre uma tela enorme que comprei por uma pechincha. Já tinha feito inúmeras tentativas de terminar a obra, mas não estava satisfeita. Foi quando pretensiosamente me lembrei de Picasso e da idéia de que um quadro nunca está terminado, nós é que desistimos dele. Pois bem, desisti feliz da vida e corri pra pendurar o mesmo na sala de jantar, a fim de garantir mais luz e cor ao ambiente.

Dei dois passos para trás e gostei do que vi, mesmo certa de que o marido vai reclamar por eu não ter esperado por ele para fazer o furo na parede da maneira correta, talvez antes mesmo de elogiar a pintura... mas é o preço que se paga quando se tem desejo de felicidade imediata. Maridos nunca cumprem as tarefas domésticas no tempo regulamentar. Rápido como quem rouba, o fiz, e , melhor, fiquei igualmente orgulhosa de mim mesma, pela pintura e pelo furo. Este último, quase perfeito.

21 de out. de 2010

To fu or not To fu? Eis a questão


Confesso estar confusa nesse mundo organicamente correto. Se ontem troquei, não sem resistência, um bife de picanha por uma porção de proteína de soja, leite com aquela natinha que formava uma capa sobre o líquido por uma substância quase transparente com apelido de skim milk, enchi meu prato de verdinhos e vermelhos e laranjas com azeite extra virgem pra todo lado, tomei suco de laranja com couve, coloquei linhaça até sobre feijão, comi pão integral com imitação de manteiga e ovo falso que vinha em uma embalagem do tipo longa vida...hoje não sei mais se vou ser salva pela divina providência gastronômica dos saudáveis dos últimos dias.

O fato é que peguei mania de ler artigos médicos publicados nas revistas de vida saudável e ver programas de alimentação alternativa na TV, mas já vi ser impossível acompanhar as considerações dos pesquisadores desta área. Primeiro, porque entre si eles ainda não chegaram a conclusões definitivas. Um dia proclamam que a soja é a salvação de todos os males que assolam a vida das mulheres e seus rompantes de humor; quisera eu poder aplacar minha vontade de matar alguém naqueles dias que antecedem aqueles outros com um pedaço de tofu três vezes por semana. Depois me vêm com a história de que o uso da soja é responsável por uma infinidade de efeitos colaterais, com direito a publicações do tipo terrorista: "A Verdadeira História da Soja", entre outros.


Dentre as pesquisas divulgadas, há quem afirme por exemplo que o uso da soja em homens baixou consideravelmente os níveis de testosterona provocando impotência sexual e nas mulheres representou maior risco de desenvolverem câncer de mama, além da baixa da libido...mas, por sua vez, o seu uso poderia reduzir os riscos de problemas no coração. Pergunto a mim mesma que tipo de moléstia seria menos danosa. Morrer sem tesão ou do coração?

Afirmam alguns que as razões para tais malefícios atendem pelo nome de duas isoflavonas com nome de dupla sertaneja: genisteína e daidzeína. A esta altura eu jogo pro lado a revista especializada e juro que nunca mais assisto ao Globo Repórter.

Pelo menos pra alguma coisa hão de servir estas pesquisas todas. Na hora de arranjar desculpa pra um eventual mau desempenho sexual ou ainda um substituto pra velha "dor de cabeça", homens e mulheres podem bravar redimidos: "maldita soja!"