Quando encontro em meu mailbox um envelope cuidadosamente manuscrito que ela às vezes envia pelo correio, por um milésimo de segundo chego a pensar que estou a receber notícias de mim mesma, tamanha a semelhança de nossas letras cursivas, redondinhas, caracterizadas por um traço que se eleva ao final de cada palavra. Então acho graça e corro pra casa, ansiosa pelo conteúdo, pois as afinidades com a amiga Hilra, hoje distante, definitivamente não se esgotam naquilo que se pode ver.
Ela não mora em Londres, eu não moro em Nova York, no momento interioranas, guardamos algo de urbano, de cliché, que então chamamos de saudade. Ambas estamos a milhas do movimento de uma grande metrópole que nos embalou os sonhos por anos e anos. Aflitas, nos correspondemos por vias diversas, menos do que desejávamos, para que tenhamos certeza de que não nos perderemos jamais. Quando ela escreve posso ouvir a sua voz e ver o jeito como conserta os óculos sobre o nariz enquanto fala. Às vezes ela me obriga a pensar que é festa e me convida para dançar sobre nossas incertezas, outras vezes, mesmo chovendo, abro uma janela e deixo entrar luz sobre nossas dúvidas. Nos revezamos bem nos papéis de Mafalda e Pollyana; anti-heroínas, não temos idéia do que somos capazes, o que nos garante um certo charme.
Ela repousa nos braços da Rainha, eu do Tio Sam. Nada confortáveis, planejamos um encontro, onde finalmente misturaremos chá com Coca Cola e faremos uma grande festa.