
No entanto, logo percebi que a mais valiosa lição que aprenderia com você jamais seria proferida através das palavras. Sua atitude generosa como ser humano, o espírito conciliador, o posicionamento crítico, a dedicação ao trabalho, o respeito às diferenças, o amor incondicional aos familiares e amigos, revelados através de uma gentileza ímpar e um bom humor infindo, falavam por si. Com certeza, a forma equilibrada com que viu o mundo, sem se render aos sobressaltos dos extremos, mérito dos sábios, será ponto de referência para aqueles com quem conviveu.
Ficará a saudade de seu sorriso fácil, do abraço franco, da mente fértil, da maneira como incentivou a mim e a meus irmãos a nos valorizarmos e seguirmos confiantes rumo às nossas conquistas. Ficarão as fotos que contam sua história, as cartas e emails trocados, o livro que publicou. Sem dúvida, ficarrão as marcas indeléveis de sua presença em nossa vida, porque pessoas como você, pai, não passam.
Naquela última tarde no hospital, quando as palavras pareciam não dizer mais nada, soprei no seu ouvido a mesma música que, inúmeras vezes, cantou para me ninar. Com o auxílio majestoso de um doce violino, deixei que o som de Sertaneja o embalasse e então, desta vez, você dormiu. E descansou.
Agora, a saudade sussurra baixinho uma outra melodia, que canta uma certeza: aonde quer que eu vá levo você no olhar...